Nas últimas safras, o Brasil vem se consolidando como um dos maiores produtores de soja do mundo, uma disputa acirrada com um dos principais players, os Estados Unidos.
Segundo a CONAB, são esperados mais de 120 milhões de toneladas da oleaginosa para a safra 2019/2020, um crescimento de 6% em relação a safra anterior e superior aos EUA, que estima uma produção de 100 milhões de toneladas.
Essas conquistas se dão graças a fatores como a pesquisa e melhoramento, que a todo o momento estão sendo entregues para o mercado, às genéticas (cultivares mais adaptadas) e às tecnologias para alcançar altas performances.
Gráfico 01. Fonte: CONAB adaptado por Sandro R. Quinebre
Ultimamente está mais evidente a importância de altas produtividades para a sobrevivência na atividade, pois com a grande competitividade, somada aos diversos fatores que influenciam diretamente e indiretamente (custo de produção, oferta do produto, câmbio, clima, pragas, doenças, etc), tornam o sistema produção um exercício de alto risco, que muitas vezes não perdoa uma decisão errada.
Atenção com o manejo
O crescimento da cultura não traz somente benefícios, visto que junto com a expansão da atividade, diversos fatores negativos também aparecem, como a pressão de pragas e de doenças, que influenciam diretamente nos resultados.
Para que isso não se torne um pesadelo, a adoção e associação de técnicas de manejo (solo, pragas, doenças, etc), são ferramentas primordiais para o sucesso de uma lavoura, ou seja, é através delas que conseguimos equilibrar a relação custo/benefício.
Pensando no complexo de patógenos, que pressionam a cultura da soja, o conhecimento aprofundado da região (histórico de doenças) e o planejamento da safra (data de plantio, tipo de crescimento da cultivar, resistência genética, tipo de solo, etc), são estratégias fundamentais para complementar o manejo fitossanitário, bem como a avaliação Triângulo da Doença (imagem 01), que pode contribuir fornecendo referências, sobre possíveis instalações de patógenos.
Imagem 01. Triângulo da doença. Fonte: adaptada de Bergamim Filho e Amorim (2018, p. 217).
Principais doenças da soja
A seguir, vamos descrever sobre o cenário atual das principais doenças da soja e os desafios no manejo delas.
Antracnose (Colletotrichum truncatum) e Mancha Alvo (Corynespora cassicola)
Duas doenças comuns na maioria das regiões de cultivo da oleaginosa, porém não menos importantes, pois em situações de alta pressão dos patógenos, se não adotarmos uma estratégia eficiente de controle, as percas podem ser significativas, principalmente com cultivares susceptíveis. Lembrando que no caso da Mancha Alvo, a cultura do algodoeiro também é afetada pelo mesmo patógeno.
Os danos destas doenças, ocorrem nas estruturas reprodutivas (vagens), causando redução da área fotossintética (folhas), pecíolos e hastes, ou seja, comprometem agressivamente a performance da planta.
Inicialmente o manejo destas doenças, pode ser executado através das seguintes práticas:
1. Escolha cultivares resistentes ou tolerantes;
2. Utilize sementes certificadas (livres de patógenos);
3. Cultive em áreas de boa fertilidade (principalmente K);
4. Tenha atenção com a densidade de plantas (em área de alta pressão, trabalhar com densidades de plantas menores);
5. Pratique a sucessão de cultura com gramíneas;
6. Utilize o tratamento de sementes com fungicidas (como exemplo RANCONA T);
7. Realize o controle químico com fungicidas de alta performance (como exemplo VESSARYA).
Imagem 02. Manejo de Mancha Alvo (Corynespora cassicola), com fungicida Carboxamida. Foto: Sandro R. Quinebre
Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum)
Esta é uma doença antiga que pressiona a cultura da soja, havendo grandes importâncias entre as décadas de 1970 e 1980, porem ficou um tempo sem grandes efeitos, ressurgindo com ênfase na safra 2006/2007, e até hoje, chama atenção principalmente na região da Bahia (FUNDAÇÃO MT, 2017).
Para o Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum) o manejo pode ser executado com a escolha de cultivares de arquitetura ereta (auxiliando em uma maior aeração do dossel e consequentemente na redução do microclima favorável para a doença), juntamente com sementes certificadas, TS com fungicidas e rotação com culturas não hospedeiras.
Temos um conteúdo mais aprofundado e atualizado sobre esta doença, acesse: Manejo de Mofo Branco na Cultura da Soja.
Podridão de carvão (Macrophomina phaseolina)
Conforme o relato de muitos profissionais da área “cada safra é uma novela diferente”, e na última safra 2018/2019 ocorreram situações que foram favoráveis para alguns patógenos.
Desta maneira, devido às adversidades climáticas, juntamente com a ausência de manejo do solo (stress hídrico + altas temperaturas + solos compactados), proporcionou altas incidências de podridão de carvão da raiz em diversas regiões (Macrophomina phaseolina), doença que em safras passadas se encontrava quase ausente (sem efeitos significativos) e nesta última pegou muitos agricultores de surpresa.
Por ser uma doença oportunista, aproveitou as condições favoráveis (interação entre ambiente, patógeno e hospedeiro) para se instalar, causando a morte precoce de plantas e consequente redução no enchimento de grãos, resultando em perdas de produtividade.
Para a prevenção deste patógeno oportunista, recomenda-se melhorar as condições físicas e químicas das áreas de cultivo, ou seja, deve-se ter uma boa condição de fertilidade em camadas profundas e o aumento do percentual de matéria orgânica. Este último pode ser alcançado com sistemas de consorciação de milho e braquiárias.
Evolução da Ferrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi)
A maioria das doenças são controladas com ações preventivas dentro de um sistema integrado. Atualmente o mercado disponibiliza várias moléculas que protegem a lavoura desde a semeadura, através de fungicidas via tratamento de sementes, até as fases finais do ciclo da cultura, com aplicações de fungicidas foliares.
Entre as moléculas mais utilizadas, se destacam os grupos dos Triazóis e Estrobilurinas, dois grupos de fungicidas que contribuíram para a redução das perdas causadas pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, doença amplamente conhecida, porém, ainda muito severa que pode evoluir em prejuízos de até 90% no rendimento da lavoura.
Segundo a EMBRAPA, nas primeiras aparições dessa doença, estima-se que mais de 60% da área de soja do Brasil foi atingida pela ferrugem na safra 2001/02, resultando em perdas de 112.000 t ou US$ 24,70 milhões.
No entanto, em paralelo com a ampliação das áreas de cultivo da soja, houve também o aumento da utilização de fungicidas dos grupos Triazóis e Estrobilurinas. Consequentemente o aumento da exposição destas moléculas reflete negativamente no desempenho delas em relação ao controle da Ferrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi).
A grande pressão de seleção, gerada por aplicações sequenciais, resultaram, nos últimos anos, na redução da sensibilidade do fungo, fato que se agrava quando somado a outras condições como a baixa rotatividade de modos de ação, sub doses de produtos, intervalos de aplicações, características do fungo (mutações, disseminação, ciclo vital), plantas voluntárias, etc.
Gráfico 02. Porcentagem de controle da ferrugem-asiática da soja com fungicidas a base de tebuconazol (TBZ), ciproconazol (CPZ) e azoxistrobina (AZ), avaliados no período de 2003 a 2018. Fonte: EMBRAPA
Importância das ferramentas químicas
A aparição da resistência de uma determinada doença a um produto é um fato inevitável devido à grande variabilidade genética que a maiorias dos fungos possuem. Porém, com o uso racional das ferramentas químicas, podemos retardar este fato desagradável.
Nas últimas safras, a utilização de grupos químicos diferentes têm demonstrado a campo e em fontes de pesquisas, resultados satisfatórios para o controle de doenças, como exemplo, as Carboxamidas, que até o momento apresentaram resultados interessantes (incremento em produtividade e no controle de doenças) em aplicações intercaladas com misturas convencionais (Triazóis + Estrobilurinas).
No entanto, é válido ressaltar a MOÇÃO descrita pelo Consórcio Antiferrugem ao MAPA no dia 27/06/2017, relatando que: “Os fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (ISDH ou "carboxamidas") apresentaram redução de eficiência na safra 2016/17 em ensaios realizados no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Mato Grosso do Sul e no sul do Mato Grosso. Por esse motivo, devem ser preservados por meio de práticas de manejo integrado, que incluem seu uso associado a fungicidas com outros modos de ação, o vazio sanitário, a calendarização das datas de semeadura e colheita, o uso de cultivares resistentes e a semeadura de cultivares precoces no início da época recomendada para cada região”.
Conforme citado anteriormente, os fungicidas Protetores “multissitios” (Mancozeb, Oxicloreto de Cobre, etc), estão sendo utilizados nas lavouras e entregando resultados surpreendentes em misturas com Triazóis + Estrobilurinas e até mesmo em combinações com Carboxamidas.
Estas ações contribuem para o manejo de resistência, devido aos fungicidas protetores terem amplo espectro de ação, agindo em diversos pontos do metabolismo do fungo simultaneamente (inibindo drasticamente a chance de sobrevivência dos esporos). Diferente dos triazois, estrobilurinas e carboxamidas são considerados sitio-específicos.
De acordo com a pesquisa da consultoria Spark Inteligência Estratégica, houve um aumento expressivo ao uso dos fungicidas protetores na safra 2016/17, quando alcançou 38% das áreas de soja. Segundo informações da pesquisa, este crescimento se deu devido ao aumento da resistência da ferrugem asiática, resultando na redução do desempenho dos fungicidas sistêmicos.
O estado que mais usou dos produtos de contato foi o Rio Grande do Sul com aproximadamente 55%, seguido pelo Mato Grosso do Sul 40%, Mato Grosso e São Paulo 39%, Paraná 34% e Goiás 33% (Fonte: Agrolink).
Considerações finais
O conhecimento aprofundado da área, somado a diversas técnicas de manejo integrado, serão sempre as ferramentas essenciais para o sucesso de uma lavoura. E para que isso se torne realidade é necessário sempre estar atualizado com posicionamentos e informações técnicas. A Corteva Agriscience está sempre à disposição do agricultor para auxiliar no seu dia a dia, com produtos e serviços diferenciados.
Referências
REUTERS. BRASIL VÊ AUMENTO NA SAFRA DE SOJA 2019/2020. 2019. Disponível em: <http://apoiologistica.com.br/brasil-ve-aumento-na-safra-de-soja-2019-2020/>. Acesso em: 18 nov. 2019.
BRASIL. EMBRAPA. Soja em números (safra 2018/19). 2019. Disponível em: <https://www.embrapa.br/en/soja/cultivos/soja1/dados-economicos>. Acesso em: 18 nov. 2019.
BRASIL. EMBRAPA. Ferrugem da soja: manejo e prevenção. Disponível em: <https://www.embrapa.br/en/soja/ferrugem>. Acesso em: 18 nov. 2019.
CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM (Brasil). MOÇÃO. 2017. Disponível em: <http://acacia.cnpso.embrapa.br:8080/cferrugem_files//1570767082/MocaoCAF%202017.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2019.
BRASIL. CONAB. SÉRIE HISTÓRICA DAS SAFRAS. 2019. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras?start=30>. Acesso em: 18 nov. 2019.
AGROLINK - LEONARDO GOTTEMS (Brasil). Dispara uso de fungicidas protetores no Brasil. 2017. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/noticias/dispara-uso-de-fungicidas-protetores-no-brasil_398268.html>. Acesso em: 18 nov. 2019.
FUNDAÇÃO MT (BRASIL). Boletim de Pesquisa. 18. ed. Rondonópolis - MT: Entrelinhas, 2017. 336 p. v. 18.
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por Sandro Rossano Quinebre Engenheiro Agrônomo, formado pelas Faculdades Integradas de Rondonópolis/UNIC. Possui experiência no manejo das culturas de soja, milho e algodão. Atualmente é Agrônomo de Campo na Corteva Agriscience™.
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Publicado em: 09/12/2014
Atualizado em: 25/11/2019