Recentemente foram apresentados resultados sobre estudos conduzidos pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (ESALQ/USP) em parceria com a Syngenta, para avaliar o risco de evolução de resistência da Spodoptera frugiperda à tecnologia Vip3Aa20 no Brasil.
Os resultados destes estudos mostraram que existe alta suscetibilidade da lagarta-do-cartucho à proteína Vip3Aa20, e baixa frequência inicial do alelo de resistência no campo3. Isso significa que as lagartas têm uma alta taxa de mortalidade quando expostas à proteína, e embora o alelo de resistência de S. Frugiperda à proteína Vip3Aa20 tenha baixa frequência no campo está amplamente distribuída nas principais regiões produtoras de milho do Brasil e sua frequência está aumentando1.
Este estudo reforça a necessidade de implementar estratégias de IRM eficientes para atrasar a evolução da resistência de S. frugiperda a Vip3Aa20 no Brasil.
A ocorrência de linhagem resistente a proteína Vip3Aa20, embora em baixa frequência no campo, enfatiza a importância da utilização das Boas Práticas Agrícolas, o qual compreende seis estratégias de manejo (imagem 1):
1. Dessecação antecipada
2. Uso de semente certificada
3. Tratamento de sementes com inseticidas
4. Área de refúgio estruturado
5. Controle de plantas daninhas voluntárias
6. Monitoramento da ocorrência de pragas na lavoura e controle de insetos.
Dentre todas, destacamos a utilização do refúgio estruturado efetivo para manutenção da tecnologia.
Imagem 01. Manejo da Lagarta-do-cartucho no refúgio estruturado efetivo.
Imagem 02. Lagarta-do-cartucho. Foto: Fernando Zanatta.
Qual a importância da área de refúgio?
A função da área de refúgio no manejo de resistência de insetos com a tecnologia Bt é produzir uma abundância de insetos suscetíveis, que irão cruzar com os raros insetos provenientes das áreas plantadas com a tecnologia Bt, reduzindo assim a possibilidade de desenvolvimento de populações resistentes.
A proposta de manejo de áreas de refúgio estruturado de milho, visando otimizar a sua efetividade como ferramenta de MRI (imagem 3 e 4), baseia-se nas seguintes recomendações:
a) Recomendações de adoção de 10% de área de refúgio estruturado efetivo para milho;
b) O plantio da área de refúgio estruturado efetivo pode ser feito de diversas maneiras (imagem 3), desde que seja mantida uma distância máxima de 800 metros da área com milho ou soja Bt. Entretanto, para uma maior efetividade da área de refúgio como ferramenta de MRI, recomenda-se a sua implantação em faixas, ou dentro do mesmo bloco, favorecendo, assim, o acasalamento aleatório entre indivíduos provenientes das áreas de Bt e refúgio;
c) O uso opcional de TS com inseticida para controle de lagartas;
d) O uso de inseticidas (as aplicações de inseticidas), nas áreas de refúgio (milho não Bt), para o controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), deverão ser feitas quando 20% das plantas atingirem o nível 3 da Escala Davis (raspagens iniciais). Para garantir a efetividade do refúgio como ferramenta de MRI, recomendam-se no máximo duas pulverizações até o estágio V6 (seis folhas verdadeiras). Idealmente, as pulverizações da área de refúgio devem acontecer simultaneamente às pulverizações da área com milho Bt.
Imagem 03. Proposta da Manejo.
Imagem 04. Exemplos de área de refúgio estruturado efetivo.
Portanto, o refúgio estruturado é considerado uma estratégia efetiva para aumentar a vida útil das tecnologias Bt desde que manejado para produzir insetos suscetíveis.
Mas, para que o manejo integrado seja realizado com sucesso em culturas que utilizam tecnologias Bt, além da utilização da área de refúgio estruturado, é necessário adoção das outras cinco práticas.
Os estudos realizados pela ESALQ e Syngenta evidenciaram que o cruzamento de indivíduos homozigotos resistentes (rr) com indivíduos homozigotos suscetíveis (ss) resulta em indivíduos heterozigotos (rS) que se comportam como suscetíveis quando expostos ao milho contendo a proteína Vip3Aa2022.
Os resultados desses estudos demonstraram que a taxa de mortalidade em indivíduos ss e rS é 100%, portanto, uma estratégia realmente efetiva para preservar a vida útil da proteína2.
Considerações finais
Todos nós, produtores e empresas, possuímos interesse em divulgar e aplicar as boas práticas agrícolas para preservar a durabilidade das tecnologias, uma vez que nenhuma tecnologia Bt está imune à possibilidade do desenvolvimento de resistência a campo com o tempo.
Ficou com dúvidas? Envie as suas perguntas sobre o artigo utilizando o campo comentários abaixo.
|
por Fernando Zanatta
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Passo Fundo (UPF), com mestrado em Produção Vegetal (UPF). Possui experiência em condução de ensaios a campo, pesquisas para as culturas de milho e soja, avanços de materiais genéticos, geração e desenvolvimento de informações técnicas, treinamentos e palestras. Faz parte do time de Agronomia da Corteva Agriscience™ participando dos projetos de avaliação, avanço e caracterização de novos híbridos de milho e cultivares de soja.
|
|
por José Carlos Cazarotto Madalóz
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com mestrado em Produção Vegetal (UTFPR). Desenvolve trabalhos de manejo e acompanhamento de lavouras com objetivo de incremento de produtividade com melhor uso de recursos da propriedade e conhecimento dos materiais (milho e soja). Faz parte do time de Agronomia da Corteva Agriscience™ participando dos projetos de avaliação, avanço e caracterização de novos híbridos de milho e cultivares de soja.
|
Conheça a história de quem é referência em boas práticas agrícolas:
Celi Webber: as Boas Práticas são a Peça Fundamental do Sucesso da Propriedade
Celso e Cássio Kossatz: Mais uma História de Sucesso para o Agronegócio
Irmãos Longhi: Há anos fazendo o manejo correto para altas produtividades
Veja mais sobre boas práticas e entenda o manejo de resistência:
A Gestão Responsável de Produtos e as Boas Práticas Agrícolas
Dúvidas Sobre a Efetividade do Refúgio na Durabilidade das Tecnologias Bt
Manejo da Resistência de Insetos à Tecnologia Bt
Referências
1 - Amaral et al., 2019 - GeographicaldistributionofVip3Aa20 resistance allele frequencies in Spodoptera frugiperda (Lepidoptera:Noctuidae) populations in Brazil
2 - Bernardi et al., 2016 - Selection and characterization of resistance to the Vip3Aa20 protein from Bacillus thuringiensis in Spodoptera frugiperda
3 - Bernardi et al., 2015 - Frequency of resistance to Vip3Aa20 toxin from Bacillus thuringiensis in Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) populations in Brazil