A demanda crescente por alimento em todo o mundo nos últimos anos, e as dificuldades de aberturas de novas áreas, contribuíram para que fossem utilizadas áreas marginais para o cultivo agrícola.
A Savana Tropical brasileira ou, Cerrado, é o segundo maior bioma da América do Sul, com notada biodiversidade. Ainda sim, este bioma é carente de estudos, ao que diz respeito à dinâmica da matéria orgânica, e está sofrendo intensas mudanças com o uso inadequado do seu solo. Tanto na agricultura quanto na pecuária, este bioma é um dos 17 ecossistemas mais degradados do planeta.
O Cerrado brasileiro é ocupado por 30 milhões de hectares de Neossolos Quartzarênicos, o que totaliza 15% do Cerrado. No Brasil os solos sob Cerrado nativo, na sua maioria, apresentam condições físicas favoráveis à agricultura, com isso, tem se percebido cada vez mais a exploração com culturas anuais e pastagens. Essa mudança altera drasticamente os atributos do solo, tanto químicos, quanto físicos e microbiológicos.
Desta forma, a utilização de sistemas de cultivo, que possam revolver o mínimo possível do perfil de solo, permite que a terra garanta uma estrutura adequada para proporcionar maior armazenamento de umidade e aeração em equilíbrio dinâmico.
Estas são condições essenciais de manutenção da sustentabilidade microbiana no solo, e que podem ser potencializadas quando existe o aumento da matéria orgânica, sendo possível alcançar resultados promissores com o sistema de plantio direto (SPD).
Limitações para o cultivo
Os solos com baixo teor de argila (imagens 1 e 2) apresentam restrições para o cultivo. Em geral, possuem baixa fertilidade natural e presença altíssima de alumínio (AL) em forma tóxica. Além disso, apresentam um baixo teor de matéria orgânica (MO), que é a principal responsável pela maior parte da capacidade de troca de cátions (CTC). Consequentemente, solos com baixo teor de argila e pouca matéria orgânica apresentam baixa capacidade de retenção de água também.
Imagem 1. Solo com baixo teor de argila. Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira
Imagem 2. Solo com baixo teor de argila. Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira
Plantio Direto
Com a adoção do plantio direto (imagens 3 e 4), nos empenhamos em buscar a manutenção e melhoria das características físicas e químicas do solo. Portanto, saímos de um método altamente destrutivo e degradativo do solo e da matéria orgânica, para práticas que minimizam estes efeitos e, em alguns casos, possibilitam até mesmo ganhos de MO.
Imagem 3. Plantio direto. Foto: Mauricio Celano.
Imagem 4. Plantio direto.
Imagem 5. Plantio direto. Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira.
A matéria orgânica no solo
Solos com “qualidade” apresentam elevado teor de matéria orgânica, e um equilíbrio entre as formas estáveis de mineralogia da MO (SILVA & MENDONÇA, 2007).
A matéria orgânica sofre grande influência do clima e das características físicas e químicas do solo. As partículas de argila, de maior textura, melhoram e aumentam a estabilidade dos substratos orgânicos e a parte microbiana. Sendo assim, solos com maior teor de argila têm maior proteção de matéria orgânica.
Nas áreas de Neossolos Quartzarênicos, a formação de palhada é fundamental para proteção dos solos contra erosão, pois ela reduz a velocidade de infiltração da água das chuvas e também a evapotranspiração.
Com uma boa palhada em cobertura, é possível diminuir a temperatura do solo, evitando o damping off e o estrangulamento, causados pelas altas temperaturas no solo em plantas recém-emergidas.
O acúmulo de resíduos orgânicos sobre o solo, a médio e a longo prazo, poderá aumentar o teor de matéria orgânica, que é a principal responsável pela troca de cátions nos solos arenosos. Isso contribui para maior retenção de água no solo, e de nutrientes como potássio, manganês, magnésio, cálcio, enxofre, entre outros.
Práticas para conservar o solo
A adoção de boas práticas para conservar o solo, são imprescindíveis para o sucesso no manejo de Neossolos Quartzarênicos, da mesma forma que há determinadas práticas que você deve evitar.
Práticas que você deve evitar, pois degradam o solo:
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Uso inadequado de grade e arado;
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Pisoteio e tráfego excessivo de máquinas pesadas;
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Não realizar rotação de culturas;
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Extração superior a reconstrução e manutenção da fertilidade.
Práticas que vão beneficiar a conservação do solo:
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Plantio direto;
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Rotação de cultura;
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Cobertura verde;
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Aporte de palhada (imagem 5);
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Integração lavoura-pecuária (imagem 6);
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Utilização de cultivares em cobertura que forneçam uma boa matéria seca, como milho, milheto, braquiárias, crotalarias, nabo, mucuna-preta, pé-de-galinha, feijão guandu, etc.
Existem diversificadas espécies que você pode utilizar para o incremento de MO, e consequetemente obter sucesso, entretanto, vai ser necessário avaliar se o solo é adequado.
Imagem 6. Acúmulo de palhada (cobertura do solo). Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira
Imagem 7. Integração lavoura-pecuária. Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira
A realização da adubação das culturas de cobertura ou “adubo verde” é fundamental para manutenção das características físicas do solo e para acréscimo de produção de matéria seca, promovendo desta forma, o aumento do aporte de palhada.
Vantagens da prática de uso de plantas para cobertura do solo
A prática de cobertura possui vários benefícios, entre eles estão:
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A restituição de nutrientes perdidos por lixiviação (que podem ser resgatados pelas raízes, principalmente das gramíneas);
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Incremento da Matéria Orgânica do solo que vai proporcionar a melhora das seguintes características fisico-quimicas-biológicas:
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Maior reserva de nutrientes;
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Aumento da CTC;
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Tampão pH;
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Adsorção específica;
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Estrutura do solo;
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Retenção de água;
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Temperatura;
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Fauna do solo;
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Atividade microbiana;
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Diversidade microbiana.
Recomendações
Práticas de cobertura do solo: as práticas de cobertura devem ser feitas logo após a colheita da lavoura, aproveitando o índice pluviométrico de cada região, para que a cultura de cobertura se estabeleça.
Semeadura antes da colheita: alguns agricultores, às vezes, semeiam a cultura de cobertura alguns dias antes da colheita e, com isso, ganham tempo e aproveitam mais as chuvas do período.
Rotação de culturas: é recomendado fazer a rotação de cultivares nas áreas de cobertura. Por exemplo: em um ano planta-se gramíneas e no outro planta-se leguminosas, sendo possível utilizar mais de uma cultivar em cobertura.
Escolha de espécies resistentes à rápida decomposição da palhada: devido às altas temperaturas e muita umidade nos meses em que chove na região dos Cerrados, onde se concentra a maior parte dos solos arenosos, acontece uma rápida decomposição das palhadas, o que dificulta, e muito, a manutenção de uma cobertura uniforme na superfície do solo, por isso a escolha de espécies mais resistentes à rápida decomposição da palhada é fundamental.
Prevenção contra o risco de queimadas: na região dos Cerrados, o período de estiagem ocorre dentro de uma média de 4 meses. Com isto, há risco de fogo em várias áreas, um agravante para a palhada deixada sobre o solo. Desta forma, deve ser feita a prevenção contra o risco de queimadas inesperadas (imagem 7).
Imagem 8. Solo após queimada. Foto: Hugo Leonardo Marques de Oliveira
Solos arenosos não são improdutivos
Salientamos que solos de cerrado ou solos arenosos não são sinônimos de solos inférteis ou improdutivos, eles apenas são mais propensos ao desequilíbrio de nutrientes e a reduzida quantidade de MO, uma vez que este fator está relacionado a rocha de sua formação e a ação de fatores climáticos, como o intemperismo, sofrido nestas regiões. Portanto, vão exigir maior atenção e adubações adequadas.
Na maioria das vezes, recomendamos que a adubação seja feita de forma constante, parcelada e equilibrada, sendo necessário um gerenciamento e uma análise das condições locais, da cultura, da cultivar e dos resultados vislumbrados, como uma projeção futura de manutenção da saúde e da vida desses solos.
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por Adilson Policena dos Santos Engenheiro Agrônomo pela UFRGS (2006). Possui experiência em condução de ensaios a campo em parceria com universidades e fundações de pesquisa para as culturas do milho, sorgo e soja, geração e desenvolvimento de informações técnicas e treinamentos e palestras. Atualmente é Supervisor de Serviços Técnicos para as marcas de sementes da Corteva Agriscience, atuando no estado de Goiás.
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por Paulo Capistrano Dias Tomé Engenheiro Agrônomo, formado pela Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista (ESAPP). Possui experiência no manejo das culturas de soja, milho, algodão e girassol. Atualmente é Agrônomo de Campo na Corteva Agriscience™.
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Referências
1CAETANO, Jander; BENITES, Vinicius; SILVA, Gilson; Silva, IVO; ASSIS, Renato; CARGNELUTTI FILHO, Alberto. Disponível em: Dinâmica da matéria orgânica de um Neossolo Quartzerênico de Cerrado convertido para cultivo em sucessão de soja e milheto. Acesso em 18/06/2019
2CARDOSO. José Alberto Ferreira, LIMA, Augusto; CUNHA, Tony; AMARAL, André; OLIVEIRA NETO, Manoel; HERNANI, Luiz C. Disponível em: Carbono orgânico nas frações humificadas da matéria orgânica de solos arenosos sob cultivo de mangueira no semiárido Brasileiro. Acesso em 18/06/2019
3SILVA, I.R. & MENDONÇA, E.S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, G.N.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F.; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, B. & NEVES, J.C.L., eds. Fertilidade do solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p.275-374.
4RESENDE, A. V. et al. Solos de fertilidade construída: características, funcionamento e manejo., n. 156. Dez. 2016. Disponível em: Informações Agronômicas. Acesso em: 28/06/19.
5SILVA JÚNIOR, J. da. Matéria orgânica do solo em sistemas de produção agrícola e cerrado do oeste baiano. 2019. 80 f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019. Disponível em: Matéria orgânica do solo em sistemas de produção agrícola e cerrado do oeste baiano.. Acesso em: 28/06/19