A soja tem grande importância social e econômica mundialmente e no Brasil, onde é uma das principais culturas plantadas na safra verão, com 35,87 milhões de hectares na safra 18/19. (CONAB, agosto 2019).
Há diversos fatores que podem prejudicar o potencial de rendimento da soja, entre os quais é possível destacar os danos e as perdas causados pelas doenças, que são importantes limitadores da produção.
Mofo branco
O mofo branco, doença causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, apresenta alto potencial de prejuízo à cultura da soja, podendo ocasionar perdas de produtividade de 30% até 100%, quando as medidas de manejo não são realizadas de forma adequada.
Esta doença é hospedeira em mais de 400 espécies de plantas registradas, entre as quais estão a cultura do feijão, algodão, tomate industrial, girassol, batata, crotalaria, e outras espécies de hortaliças, com exceção das gramíneas.
O mofo branco possui muitos hospedeiros, restringindo as opções e as possibilidades para a rotação de culturas nas áreas com o histórico da doença.
A doença manifesta-se com maior severidade em áreas acima de 600 metros de altitude, sob condições de alta umidade e temperaturas variando entre 10 °C e 21°C. Desta forma, a doença encontra ambientes favoráveis em quase todos os estados do Sul e do Centro-Oeste do Brasil (CAMPOS, 2010).
O fungo é capaz de infectar qualquer parte da planta, porém, a fase mais vulnerável na cultura da soja compreende os estádios da floração plena (R2), porque a flor serve como fonte primária de energia e alimento para fungo, estendendo-se ao início da formação das vagens (R3/R4).
Ciclo da doença
O fungo S. sclerotiorum, na ausência de plantas hospedeiras, consegue sobreviver no solo através de estruturas denominadas escleródios (imagem 1) por um período de 5 até 10 anos.
Os escleródios possuem coloração escura, formados pelo próprio micélio do fungo. Estas estruturas contêm substâncias de reserva que permitem ao fungo sobreviver por muito tempo, até que as condições ambientais sejam favoráveis à sua germinação.
Imagem 1: Escleródios, estruturas de resistência do fungo. Foto: Josefa Neiane Goulart Batista.
Os escleródios exercem papel importante no ciclo de vida do S. sclerotiorum. O seu ciclo inicia quando os escleródios germinam produzindo micélios (germinação miceliogênica).
Os micélios penetram diretamente nos tecidos da base da planta ou formam os apotécios (germinação carpogênica) (imagem 2), germinando na superfície do solo. Estas estruturas são parecidas com pequenos cogumelos que liberam ascósporos, infectando, especialmente, as flores (LEITE, 2005).
Cada apotécio pode liberar milhões de ascósporos que serão disseminados principalmente pelo vento no dossel da planta, iniciando o processo de infecção primária pelas pétalas das flores, invadindo os tecidos sadios, como as vagens (imagem 3), caules, hastes e folhas, formando uma eflorescência branca – que lembra o algodão – que são os micélios do fungo (imagem 4).
O emaranhado de micélios transforma-se em uma massa negra e rígida, formando os escleródios. Os escleródios, que podem estar tanto na superfície como no interior da haste e vagens infectadas (imagens 5 e 6), ao cairem no solo, tornam-se fonte de inóculo para as culturas hospedeiras subsequentes, iniciando o processo infeccioso da doença (imagem 7).
Imagem 2: Apotécios - Estruturas que liberam os ascósporos do fungo. Foto: José de Freitas.
Imagem 3: Micélios do fungo atacando vagens de soja. Foto: Sidney Hideo Fujivara.
Imagem 4: Micélios do fungo atacando vagens e hastes das plantas. Foto: Mariana Harumi Sukessada Fujivara.
Imagem 5: Escleródios formados pelo emaranhado de micélios nas hastes das plantas. Foto: Ederson Antonio Civardi.
Imagem 6: Escleródios formados pelo emaranhado de micélios no interior das vagens das plantas. Foto: Baltazar Reis Fiomari.
Imagem 7: Estrutura de resisistência do fungo (escleródios) no solo, iniciando o ciclo da doença. Foto: Lecio Kaneko.
Como diagnosticar a doença?
Os primeiros sintomas da doença são lesões encharcadas que evoluem para coloração castanho-clara. Em seguida, desenvolvem uma abundante formação de micélios brancos e densos que se espalham em folhas ou qualquer outro tecido da parte aérea que tenham tido contato com as fontes primárias de infecção, como as flores.
Em poucos dias os micélios se transformam em escleródios, estruturas de resistência, de coloração escura, e o seu tamanho pode variar de alguns milímetros até alguns centímetros. (Manual de Fitopatologia, 1997).
Práticas de manejo
O manejo do mofo branco deve ser realizado através da adoção de várias medidas de controle que visam reduzir a taxa de progresso do inóculo (escleródios no solo), minimizando os riscos de uma epidemia, mantendo assim um nível abaixo do dano econômico (Görgen, et al., 2011), (EMBRAPA, 2009).
Como parte do manejo integrado da doença, podemos destacar as seguintes medidas de controle:
1. Sementes certificadas
A aquisição e a utilização de sementes certificadas de boa qualidade e provenientes de empresas confiáveis, podem garantir a ausência da estrutura do fungo.
2. Tratamento de sementes com fungicida
Impede a ausência de propágulos viáveis da doença na superfície das sementes e, quando este é sistêmico, protege a plântula nos seus estádios iniciais.
Os produtos registrados para o tratamento de sementes no controle do mofo branco na cultura da soja são o Tiofanato Metílico 350 g/l + Fluazinam 52,5 g/l.
3. Cobertura do solo com palhada
A palhada consiste em uma barreira física proveniente de gramíneas como brachiarias e cereais de inverno, impedindo a luz direta sobre os apotécios e dificultando a sua formação e a liberação dos esporos do fungo no ar. Esta prática pode inibir a formação de apotécios no solo em até 90%.
4. Rotação e/ou sucessão
É importante efetuar a rotação e/ou sucessão de culturas não hospedeiras do mofo branco, utilizando principalmente gramíneas.
5. Escolha de cultivares
Cultivares com arquitetura de plantas mais eretas permitem maior aeração entre as plantas.
6. Espaçamento entre linhas
Em áreas com histórico da doença é sempre aconselhável utilizar espaçamentos que permitam maior aeração e boa penetração de raios ultravioleta no solo, uma vez que este fungo é bastante sensível.
7. Revolvimento do solo
A prática de revolvimento do solo leva os escleródios, estrutura de resistência, para camadas mais profundas. Procurar implantar o sistema de plantio direto na palha.
8. Controle de plantas daninhas
Um bom controle de plantas daninhas é importante para a redução da doença, eliminando plantas hospedeiras do patógeno presente na área com o uso de herbicidas pré-emergentes.
9. Limpeza de implementos e colhedeiras
Sempre que possível, é aconselhável realizar a limpeza de todos os equipamentos utilizados nas operações em áreas com histórico de mofo branco, evitando a disseminação para outras áreas ou talhões não infestados.
10. Controle biológico
Existem vários microorganismos parasitas de escleródios, como Rhizopus spp., Aspergillus spp., Penicillium spp. e formas saprófitas deFusarium.
Pesquisas têm mostrado a eficiência do uso de Trichoderma spp. no controle biológico de mofo branco. O Trichoderma spp. apresenta algumas limitações às altas temperaturas, raios ultravioletas e baixa umidade relativa.
Em decorrência destas limitações, é necessário ter cuidado ao aplicar o produto na área. Sempre que possível, faça as aplicações no final do dia ou à noite, com o solo úmido ou, então, irrigue a área, caso você tenha sistema de irrigação.
11. Controle genético
Ainda não há no mercado materiais resistentes ao mofo branco, porém existem materiais com características que vão ajudar a reduzir a incidência da doença (plantas eretas, precoces e tolerantes ao acamamento).
12. Controle químico
A sua eficiência vai depender, sobretudo, da época, da qualidade da aplicação e o modo de aplicação, de forma que o produto possa atingir as partes inferiores das plantas e a superfície do solo.
A primeira pulverização deverá ser feita nas primeiras aberturas das flores, (estádio R1 da cultura da soja) e a segunda aplicação no intervalo de 12 a 15 dias.
Poucos são os fungicidas registrados para o controle de mofo branco na soja: Fluazinam 500 g/l, Procimidona 500 g/kg, Carbendazin 500 g/l Tiofanato Metílico 875 g/l + Fluazinam 52,5 g/l, Bixafem+Protioconazol + Trifloxistrobina. (Oliveira, et al., 2011) (Agrofit- MAPA, 2019).
Para aumentar a produtividade
Com relação ao controle do mofo branco na cultura da soja, é necessário que o produtor lance mão das várias práticas que compõem o manejo integrado da doença, que quando combinadas, vão ajudar a reduzir a pressão do inóculo na área de maneira sustentável e racional, permitindo o aumento da produtividade e viabilizando a atividade agrícola em áreas com histórico da doença.
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por Vinícius Alencar Julio Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal de Viçosa- 2001. Mestrado em Fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa-2004.
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Publicado em: 11/10/2016
Atualizado em: 24/10/2019
Veja também:
Aplicação de Fungicidas no Manejo de Doenças na Soja
Referências
AGROFIT, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-MAPA, outubro 2019
CAMPOS, H.D.; SILVA, L.H.C.P.; MEYER, M.C.; SILVA, J.R.C.; NUNES JUNIOR, J. Mofo branco na cultura da soja e os desafios da pesquisa no Brasil. Tropical Plant Pathology, v.35, p. C-CI, 2010. Suplemento.
CONAB, Acomp. safra bras. grãos, v. 6 Safra 2018/19 – Décimo primeiro levantamento, Brasília, p. 1-45, agosto 2019. ISSN 2318-6852.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de soja (Londrina, PR). Ensaios cooperativos de controle químico de mofo branco na cultura da soja: safras 2009 a 2012. Londrina.
EMBRAPA/CNPSo, 2014. 1-100 p. (EMBRAPA - Soja Documentos, 345).
LEITE, R.M.V.B. DE C. Ocorrência de doenças causadas por Sclerotinia sclerotiorum em girassol e soja.Embrapa Comunicado técnico 76, marco, 2005. Londrina, PR.
GÖRGEN, Claudia Adriana. Manejo do mofo branco da soja com palhada de Brachiaria ruziziensis e Trichoderma harzianum‘1306’[manuscrito] / Claudia Adriana Görgen. - 2009. Iv, 72 f. : il., figs, tabs.
OLIVEIRA, M.V.; Santos, F. M.; Bisinoto, F. F.;Hamawaki, O. T.; Eficiência de fungicidas no controle da incidência e severidade do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) na cultura da soja. Enciclopedia Biosfera, Centro Cientifico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 7.
KIMATI, H.; Amaorim, L.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A.; Resende, J.A.M. (Ed.) Manual de Fitopatologia: Doenças de Plantas Cultivadas, 3 ed. São Paulo Agrômica Ceres, 1997. V2 Cap 61 P.