Por Fabricio Bona Passini*
Até meados de 2007, os problemas com a lagarta do cartucho, lagarta rosca, lagarta da espiga, lagarta do elasmo e broca da cana, eram crescentes no cultivo de milho no Brasil e as aplicações de inseticida não eram eficazes para o controle destas pragas. Com a chegada das tecnologias Bt, as perdas causadas por insetos mastigadores foram minimizadas, causando a falsa impressão de que o Manejo Integrado de Pragas poderia ser abandonado. No entanto, com o passar dos anos, os problemas relacionados a resistência de insetos à estas tecnologias começaram a surgir.
A evolução da resistência de insetos às tecnologias consiste no aumento da frequência de insetos resistentes ou de seus genes na população da praga, o que, eventualmente, limita a eficiência do agente de controle. As plantas Bt, diferentemente dos inseticidas exercem uma pressão maior de seleção sobre populações de insetos praga que são alvo do controle devido à expressão contínua das toxinas inseticidas ao longo do desenvolvimento da cultura, ampliando o risco de resistência às tecnologias.
Desde o lançamento dos seus primeiros Bts, a DuPont Pioneer alerta sobre a importância de manter as práticas do Manejo Integrado de Pragas (MIP), e que, principalmente, a área de refúgio seja estabelecida nas propriedades. Como refúgio entende-se o plantio de 10% da área com híbridos de milho convencionais, cumprindo algumas orientações, como: a utilização de híbridos com o mesmo ciclo e o plantio a uma distância máxima de 800 metros.
A preservação destes insetos suscetíveis às tecnologias em áreas de refúgio é fundamental para o cruzamento com insetos resistentes, resultando, desta forma, em insetos suscetíveis. Entretanto, poucos produtores plantaram a área de refúgio e quando o faziam, pulverizavam estas áreas para obter melhores produtividades, reduzindo a efetividade desta técnica. Com a ausência de insetos suscetíveis, os insetos resistentes acasalaram entre si, aumentando rapidamente os alelos de resistência.
Mesmo com a resistência da lagarta do cartucho às tecnologias Cry1F (Herculex®I e Optimum™ Intrasect™) as áreas de refúgio continuam sendo importantes para a manutenção e eficiência destas tecnologias. É importante lembrar que existem outras pragas que são controladas por estas tecnologias (como a broca da cana, por exemplo) e que ainda podem desenvolver resistência a tecnologia caso não sejam aplicadas as melhores práticas de manejo.
Ainda é importante ressaltar que a adoção de refúgio sozinha não é suficiente para a manutenção da eficácia das tecnologias, devendo ser consideradas as aplicações de inseticidas na lavoura. O refúgio é apenas uma área fornecedora de insetos suscetíveis, por isso, as aplicações de inseticidas em áreas de refúgio devem ser menores do que na lavoura. A nova proposta de refúgio consiste em um manejo de resistência para a área Bt e um manejo de dano econômico para a área de refúgio.
Para obter o maior potencial produtivo da lavoura com um menor risco de insetos resistentes é preciso considerar as seguintes situações:
- Reserva de sementes convencionais para 10% da área para que possa estabelecer o refúgio dentro do talhão ou, de preferência, em faixas;
- Dessecação antecipada em 30 a 40 dias do plantio do milho com monitoramento para o uso de inseticidas, quando necessário;
- Em pré-plantio, novo monitoramento para a existência de plantas daninhas remanescentes e aplicação de inseticida caso necessário;
- Tratamento de semente não somente para sugadores, mas também para o controle de mastigadores, especialmente nas fases iniciais (V3-V4) e principalmente no controle da primeira revoada dos insetos;
- Monitoramento para aplicações complementares de inseticidas, considerando o nível de dano econômico no refúgio e manejo para resistência de insetos nas áreas de Bt;
- Usar inseticidas recomendados na dose de registro para a cultura do milho, considerando o estágio de desenvolvimento da lagarta. Lagartas menores que o terceiro ínstar (menos de 1 cm) são mais fáceis de controlar;
- Fazer rotação do uso de princípios ativos de inseticidas;
- Não fazer pulverizações com baixo volume de calda e nas horas quentes do dia.
Com os casos de resistência as tecnologias
Bt já confirmados, fica mais fácil olhar para traz e traçar estratégias futuras. É preciso lembrar sempre que as tecnologias
Bt devem ser consideradas apenas mais uma ferramenta no controle de pragas e que as
boas práticas do MIP contribuem para extrair o máximo potencial produtivo de um híbrido de milho.
*Autor: Fabricio Bona Passini, Gerente de Agronomia da DuPont Pioneer