por Adilson Policena dos Santos¹
As plantas daninhas influenciam a produção agrícola através da competição direta por nutrientes, umidade, luz, espaço e, em alguns casos, por alelopatia, e se não forem controladas podem ocasionar perdas consideráveis ao rendimento da cultura principal.
Atualmente, segundo a Weed Science Society of America (WSSA) existem 480 registros (espécies x local de ação) de plantas daninhas resistentes às moléculas de herbicidas no mundo, com 252 espécies, sendo 147 dicotiledôneas e 105 monocotiledôneas. Quando nos referimos ao Brasil, os registros atuais confirmam 30 espécies (15 dicotiledôneas e 15 monocotiledôneas) com biótipos resistentes a diferentes sítios de ação de herbicidas (inibidores de ALS; inibidores de ACCase; auxinas sintéticas; inibidores da síntese de EPSP, inibidores de fotossistema II e inibidores de PPO)², reportando no total 44 casos. Algumas espécies apresentam resistência múltipla, como por exemplo, o capim amargoso (Digitaria insularis) que é resistente aos inibidores de síntese de EPSPs (2008) e a inibidores de ACCase (2016).
A grande variabilidade genética das plantas daninhas associada às oscilações dos fatores ambientais e à adoção de estratégias e táticas de manejo isoladas ou associadas de formas errôneas – como o uso repetitivo de moléculas de herbicidas que agem em um mesmo sítio de ação na planta daninha – exercem uma elevada pressão de seleção às plantas invasoras, favorecendo o surgimento, adaptação e sobrevivência de biótipos resistentes a algumas moléculas de herbicidas dentro de uma população de plantas daninhas.
Existem duas invasoras que estão apresentando grande agressividade, prejuízos e amplo espectro de adaptação aos sistemas de cultivo no Brasil e que possuem fácil adaptação às diversidades climáticas em certos biomas brasileiros, que são: uma espécie de Amaranthus (Amaranthus palmeri) e o já conhecido Capim Amargoso (Digitaria insularis).
A espécie Amaranthus palmeri é originária de regiões da América do Norte, mais precisamente de regiões áridas do norte do México e Centro Sul dos EUA, sendo uma das principais espécies das culturas cultivadas nestes países com resistência a diversos mecanismos de ação dos herbicidas. No Brasil, os primeiros relatos na literatura são do ano de 2015 pelo Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) através da Circular Técnica nº 19/2015, na região Centro-Norte do Mato Grosso, nas culturas da soja, milho e algodão. Neste mesmo ano foi relatada a existência de resistência múltipla a dois mecanismos de ação de herbicidas: inibidores da síntese da ALS e aos inibidores da síntese da EPSPs, segundo o WeedScience.
Amaranthus palmeri Foto: Helder Dota Janoselli
Quanto ao Capim Amargoso, a cada safra que passa, assistimos o aumento da sua frequência nas áreas cultivadas e as dificuldades de combate por parte de técnicos e agricultores, seja pela falta de adoção e associação de estratégias e medidas de controle eficazes e efetivas ou por falta de entendimento da biologia da planta daninha.
No campo e nas mais variadas regiões existem muitos equívocos que levaram a perda da eficiência da molécula de Glifosato. A partir daí o uso de graminicidas se tornou a principal estratégia de controle do Capim Amargoso, entretanto, o uso intensivo de graminicidas através de subdosagens ou superdosagens ocasionaram a seleção de biótipos resistentes, e em 2016 a perda da eficiência do sítio de ação inibidores da ACCase, mais especificamente, neste caso, dentro do Grupo Químico Ariloxifenoxipropionatos (PROP/ FOP), ou seja, aos ingredientes ativos Fenoxaprop-P-ethyl e a Haloxifop-P-methyl, respectivamente.
Ainda nos resta o grupo químico Ciclohexanodionas – DIMs (Clethodim, Sethoxydim, Tepraloxydim), porém, como as demais moléculas citadas anteriormente, vêm sendo utilizado em superdosagens e caminha para um futuro duvidoso em relação às estratégias de controle químico de forma isolada para o Capim Amargoso. Vale lembrar, que agindo desta maneira, a principal ferramenta de manejo desta planta daninha está sob ameaça.
Capim Amargoso – Digitaria insularis Foto: Adilson Policena dos Santos
Preocupada com a sustentabilidade do sistema, a DuPont Pioneer adota e sugere Boas Práticas de Manejo de Resistência de Plantas Daninhas Resistentes. São elas:
- Limite o número de aplicações de um único herbicida, herbicidas da mesma família ou modo de ação dentro de uma única safra.
- Aplique os herbicidas nas doses de registro e no estágio de desenvolvimento da planta daninha recomendado na bula do produto, considerando as tecnologias de aplicação recomendadas – pontas, pressão de trabalho, temperatura do ar, volume de calda, umidade relativa do ar, vento, etc.
- Onde permitido pela legislação, realize tratamentos sequenciais, alternando modos de ação efetivos para controlar as plantas daninhas.
- Utilize práticas alternativas de manejo de plantas daninhas, como a rotação de culturas, cultivo mecânico e atraso de plantio.
- Limpe os equipamentos antes de movimentá-los entre talhões para minimizar a dispersão das sementes de plantas daninhas.
- Monitore os campos após a aplicação de herbicidas para detectar escapes de plantas daninhas ou novas germinações. Se uma planta daninha potencialmente resistente, ou uma população de plantas daninhas resistentes for detectada, utilize métodos de controle disponíveis para evitar a dispersão das sementes no campo.
- O uso de culturas tolerantes a herbicidas não limita o produtor a utilizar apenas um produto. Herbicidas com diferentes modos de ação podem e devem continuar fazendo parte do sistema de manejo de plantas daninhas do produtor.
O gerenciamento de plantas daninhas e voluntárias se torna imprescindível para evitar a propagação de seleção de biótipos resistentes, juntamente ao uso de diferentes medidas de manejo, de monitoramento das lavouras e a correta identificação da invasora para conseguir um controle efetivo ainda em seus estágios iniciais, e assim, buscar erradicar os focos na propriedade para evitar o alastramento tanto na própria propriedade, como na(s) região(ões) e até mesmo para outros Estados.
¹ Agrônomo de Campo da DuPont Pioneer
² ALS: Aceto Lactato Sintase (ALS); ACCase: Acetil CoA Carboxilase; Auxinas Sintéticas: herbicidas hormonais; EPSPs: Enol-Pirivunil-Shiquimato-Fosfato-Sintase; Fotossitema II: inibicação fotossíntese; PPO: Protoporfirinogênio oxidase
Referências:
Circular Técnica Nº 19/2015. Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt). Disponível em: . Acesso em 06 de março de 2017.
SCOTT, R. C., SMITH, K. L.. Prevention and controlof glyphosate-resistant pigweed in soybean and cotton. University of Arkansas Division of Agriculture Fact Sheet FSA2152, 2011. Disponível em: . Acesso: 07 de março de 2017.
CHRISTOFFOLETIi, P.J.; LÓPEZ-OVEJERO, R.F. 2008. Aspectos de resistência das plantas daninhas a herbicidas: definições, bases e situação no Brasil e no mundo. In: Christoffoleti, P.J. (Coord.). Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. 3.ed. Piracicaba: HRAC-BR, 9-34.