O sorgo é um dos mais importantes cereais plantados no mundo, e existe uma variada faixa de condições ambientais para o seu cultivo. Essa cultura pode ser suscetível a uma série de doenças cuja severidade varia de ano para ano e de uma localidade para outra, em função do ambiente sobre o patógeno e seu hospedeiro.
Há um tempo atrás, escrevemos sobre a implantação da cultura do sorgo, e já trouxemos algumas informações sobre as principais doenças que afetam a cultura. No post de hoje, vamos entender mais sobre cada uma das doenças e também como identifica-las e manejá-las a campo.
Fatores que causam doenças no sorgo
As doenças podem ser causadas por fatores bióticos (fungos, bactérias, vírus e nematoides) que se multiplicam, e são transmitidos de uma planta doente para outra sadia.
Outros causadores de doenças são os fatores abióticos, como condições ambientais (temperatura, umidade, luz, etc.) e nutricionais desfavoráveis às plantas.
Essas doenças que afetam a cultura do sorgo, consequentemente, limitam a sua produção. Para realizar um manejo de doenças eficaz, precisamos saber identificá-las no campo e entender mais sobre a forma como afetam a cultura.
Doenças: identificação e manejo
Antracnose
Colletotrichum sublineolum
Imagem 1. Folhas de sorgo em diferentes fases da antracnose.
Os sintomas de antracnose surgem com o aparecimento de lesões elípticas a circulares das quais se desenvolvem pequenos centros circulares e de coloração palha, com margens avermelhadas. Esses sintomas também podem ocorrer na nervura central da folha. Em cultivares suscetíveis e em condições ambientais favoráveis pode ocorrer a total destruição da parte aérea das plantas.
Em resumo:
- Principal doença de sorgo no Brasil (todas as regiões produtoras)
- Em torno de 121 raças do fungo
- Disseminação de conídios pela chuva e vento
- Temperatura favorável: dias quentes e úmidos (25 a 30ºC)
- Período latente entre 5 e 12 dias
- Manejo ideal: tolerância genética, rotação de cultivares, rotação de culturas e destruíção dos restos culturais
- Controle químico
A antracnose é considerada a principal doença do sorgo devido à alta capacidade adaptativa do fungo. A aplicação de fungicidas está se tornando frequente nas principais regiões produtoras do Brasil.
Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo têm avaliado a eficiência de fungicidas para o controle da antracnose.
Na safra 2008/2009, foi avaliada a eficiência de quatro formulações comerciais em comparação com uma testemunha sem aplicação. As formulações avaliadas foram:
- Tratamento 1: Tebuconazole + Trifloxistrobina (0,75 e 0,5 L/ha);
- Tratamento 2: Epoxiconazole + Pyraclostrobin (0,75 e 0,5 L/ha);
- Tratamento 3: Ciproconazole + Azoxistrobin (0,3 e 0,15 L/ha);
- Tratamento 4: Propiconazole + Trifloxistrobina (0,8 e 0,4 L/ha).
Os fungicidas foram avaliados em uma, duas e três aplicações realizadas aos 45, 60 e 75 dias após a emergência, respectivamente. Todas as formulações avaliadas apresentaram eficiência em reduzir a severidade da doença quando comparadas à testemunha, resultando em incremento de produtividade.
No entanto, a maior eficiência foi obtida com a aplicação do tratamento 2, seguido do tratamento 3, os quais resultaram menores valores de área abaixo da curva de progresso da doença, e maiores incrementos de produtividade quando comparados aos demais tratamentos.
Duas e três aplicações resultaram melhores níveis de controle da doença, tanto na maior, quanto na menor dose.
A mistura Epoxiconazole + Pyraclostrobina na dose de 0,75 L/ha em uma, duas e três aplicações, resultou em aumento médio de 56, 87 e 101% na produtividade de grãos, respectivamente, quando comparados à testemunha.
E na dose de 0,5 L/ha, o aumento médio na produtividade de grãos foi de 48, 74 e 85% com uma, duas ou três aplicações, respectivamente.
IMPORTANTE: Apesar de serem eficientes no controle da antracnose, é preciso considerar que os fungicidas testados não possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para utilização na cultura do sorgo.
Fonte: Costa et al., 2009.
Helmintosporiose
Exserohilum turcicum
Imagem 2. Turcicum
Os sintomas são o surgimento de lesões alongadas de formato elíptico que se desenvolvem inicialmente nas folhas inferiores. Possuem coloração púrpura avermelhadas ou cinza amareladas. Em alta pressão, pode ocasionar a queima de toda a parte aérea das plantas reduzindo a produção.
Em resumo:
- Disseminação de conídios pelo vento e chuva a longas distâncias
- Temperatura favorável: entre 18 e 27ºC e presença de orvalho
- Manejo ideal: tolerância genética, rotação de culturas e eliminação hospedeiros alternativos
- Controle químico com fungicidas pertencentes aos grupos químicos dos triazóis e estrobilurinas apresentam elevada eficiência no controle da doença
IMPORTANTE: não existem produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que possam ser recomendados para essa enfermidade.
Ferrugem
Puccinia purpurea
Imagem 3. Ferrugem
Os sintomas ocorrem com a formação de pústulas de coloração castanho-avermelhadas que se distribuem paralelamente e entre as nervuras. Pústulas mais desenvolvidas rompem-se liberando os uredosporos do patógeno.
Em resumo:
- Patógeno Biotrófico
- Disseminação pelo vento
- Temperatura favorável: entre 22 e 30ºC, alta umidade ou presença de orvalho
- Período latente entre 10 a 14 dias
- Sobrevive em hospedeiros alternativos como sorgo selvagem Sorghum verticilliflorum e S. halepense, e plantas remanescentes de cultivos anteriores
- Manejo Ideal: tolerância genética
- Controle químico
- A rotação de culturas possui baixa eficiência, pois a disseminação da ferrugem é feita através do vento.
Mancha de bipolares
Bipolaris sorghicola
Os sintomas da mancha de bipolares envolvem o aparecimento de pontuações avermelhadas ou cinzas que, posteriormente, se desenvolvem formando manchas de formato oval a cilíndrico. Pode ocorrer no centro das lesões uma coloração marrom ou palha circundado por margens avermelhadas.
Em resumo:
- Maior ocorrência no verão
- Germinação de conídios em poucas horas
- Alta produção de esporos
- Disseminação pelo vento
- Temperaturas elevadas e alta umidade relativa favorecem o seu aparecimento
- Sintomas típicos surgem 4 dias após infecção
- Manejo ideal: tolerância genética (um grande número de fontes de resistência tem sido identificado no germoplasma de sorgo)
- Controle químico
Míldio
Peronosclerospora sorghi
Os sintomas de míldio contemplam a formação de faixas de tecidos verdes paralelos e alternados com áreas de tecidos cloróticos. Nos estádios mais avançados, as áreas de tecidos cloróticas tornam-se necróticas. A sua forma localizada é bastante caracterizada pelas lesões de formato retangular delimitadas pelas nervuras das folhas.
Em resumo:
- Ampla faixa de adaptação climática. Mínima 10ºC e ótima entre 18 e 20ºC. Elevada umidade relativa do ar e incidência de luz solar por algumas horas, antes de períodos úmidos, são ótimas condições para o desenvolvimento da doença
- Oósporos sobrevivem por até 25 anos no solo (estrutura de resistência)
- Conídios sobrevivem por curto tempo, mas possuem um papel importante na disseminação dentro da área
- Manejo ideal: tolerâcia genética, aração profunda, sementes sadias e rotação de culturas
- Eliminação de hospedeiros alternativos
- Controle químico: opção de tratamento de sementes com Metalaxyl
Importante: não existem, atualmente, produtos à base de Metalaxyl registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle do míldio na cultura do sorgo.
Ergot
Claviceps africana
Imagem 4. Ergot
Os sintomas de ergor podem ser observados no ovário de 3 a 5 dias após a infecção apresentando uma coloração cinza enrugado.
Externamente, os sintomas ficam evidentes de 5 a 10 dias após a inoculação na forma de gotas de coloração rósea, adocicadas e pegajosas, que exudam dos ovários infectados.
Em condições de alta umidade, o fungo Cerebella volkensii cresce sob as gotas que se convertem em uma massa negra. Na condição ambiental de alta temperatura e de baixa umidade, ocorre o ressecamento dessa exudação que se transforma em uma crosta esbranquiçada. No interior das glumas, a estrutura do fungo (estroma) pode se transformar em esclerócio.
Em resumo:
- Condições ambientais ideais (florescimento)
- Temperatura abaixo de 16˚C
- Severidade maior quando a UR do ar é maior que 80%.
- Características do fungo:
- Infecção ocorre durante a fase da antese
- Depois de 5 dias da polinização não ocorre mais a doença
- Formação de solução açucarada
- Associação do fungo cerebella volkensii à gota açucarda formando uma massa negra e amorfa.
- Controle:
- Híbridos com maior nota de pólen
- época de plantio (evitar florescimento em épocas com temperaturas mais baixas)
- Utilização de fungicida para proteção das flores (tebuconazole).
Fungicidas e doses para controle de doenças na cultura do sorgo
Princípio ativo |
Dose (P.C.)1 |
Doenças controladas |
Tebuconazol* |
1 L/ha |
Ergot, ferrugem, helmintosporiose |
Epoxiconazol + Piraclostrobina* |
0,75 L/ha |
Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Azoxistrobina + Ciproconazol* |
0,3 L/ha |
Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Tebuconazol + Trifloxistrobina* |
0,6 - 0,75 L/ha |
Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Propiconazol + Trifloxistrobina* |
0,6 - 0,8 L/ha |
Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Carbendazim* |
0,6 L/ha |
Antracnose |
1 P.C. = Produto concentrado / *Adicionar óleo mineral 0,5% do volume de calda. Quadro 1. Fungicidas e doses para o manejo de doenças na cultura do sorgo. Fonte: Embrapa, 2014 1
O momento de aplicação vai depender da pressão da doença e do tipo. De maneira geral, a melhor fase para aplicação é o emborrachamento, mas depende do monitoramento.
Referências
COTA, Luciano Viana; COSTA, Rodrigo Véras da; CASELA, Carlos Roberto. Cultivo do Sorgo. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produção, 2. ISSN 1679-012X Versão Eletrônica - 6ª edição, Set./2010. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/82182/1/doencas.pdf
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por Fabrício Ferreira Viana Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa. Possui experiência em desenvolvimento de produtos e em coordenação de equipes de agronomia. Desde 2004 trabalha em grandes empresas do setor agrícola. Atualmente é agrônomo de produtona Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, onde desenvolve atividades voltadas para o desenvolvimento de novos produtos de milho, soja e sorgo.
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