No Brasil, a cultura do sorgo vem crescendo, principalmente no período da safrinha. Ele é o quinto
cereal mais produzido em todo o mundo, atrás apenas do trigo, do arroz, do milho e da cevada.
Entre 2017 e 2019 os maiores produtores mundiais de sorgo granífero foram Estados Unidos, Nigéria,
México, Etiópia e Índia (gráfico 1). Na média dos anos, o Brasil está em
9º lugar. Veja a produção de sorgo no nosso país no gráfico 2.
Gráfico 1. Série histórica de área, produção e rendimento
de sorgo granífero no Brasil. Fonte: CONAB.
Gráfico 2. Os maiores produtores de sorgo granífero, 2017 a 2019.
Fonte: USDA.
A utilização do grão de sorgo
Em países da África, Ásia e América Central, o sorgo é amplamente usado na forma
de farinhas, para a dieta alimentar humana.
Também tem importância energética como ingrediente da alimentação animal nos
Estados Unidos, na Austrália e na América do Sul. Além disso, o sorgo é um componente da
produção de bioetanol.
No que se refere à utilização do grão de sorgo
são diversas as utilidades desta cultura no mundo, por exemplo:
-
Frango de corte e galinhas poedeiras: pode-se usar sorgo sem tanino em até 100%.
-
Ração de suínos: o sorgo pode ser utilizado em rações de leitões em
recria (10 a 30 kg), sem prejudicar a digestibilidade dos nutrientes e o desempenho dos animais.
-
Alimentação bovina: o sorgo pode ser usado em todas as categorias de bovinos, desde bezerros a
bovinos adultos, seja em confinamento ou em regime de pastejo.
-
Ração para animais de estimação: o sorgo não contém micotoxinas,
é bem digerido por cães e gatos e, por isso, pode ser utilizado em rações.
-
Alimentação humana: o sorgo com tanino é bom para redução da obesidade,
não contém glúten, e é fonte de fibra alimentar e de compostos fenólicos
que são antioxidantes.
Desafios na cultura do sorgo
Os grandes desafios que a cultura passa atualmente:
-
Comercialização: geralmente o preço de venda da
cultura está atrelado ao preço do milho, ou seja, normalmente precificado em até 80% do
valor do preço do milho.
-
Destino de colheita acertado: a produção de sorgo geralmente é
realizada quando o produtor já possui o destino da colheita acertado, ou seja, quando se planta
sorgo, ou é para consumo no próprio estabelecimento ou já existe contrato de entrega
para alguma processadora de alimento animal.
Outros desafios
O sorgo é rústico em relação à seca, mas mostra um nível de
extração semelhante à cultura do milho.
Quando se combina alta população de plantas e adubação insuficiente, ocorrem as
principais reclamações:
-
alto índice de acamamento;
-
extração da fertilidade do solo;
-
e consequências negativas na produtividade da cultura sucessora.
O grande diferencial do sorgo
A adaptação do sorgo é bem ampla, principalmente com altas temperaturas e em áreas com
déficit hídrico. Essa característica é o grande diferencial da cultura durante o
desenvolvimento, principalmente, quando comparada a outras culturas como milho, trigo e algodão, por exemplo.
Esta característica pode auxiliar os produtores na tomada de decisão de plantar sorgo em regiões
de pouca disponibilidade de chuvas e/ou nos plantios mais tardios de safrinha no Brasil Central, por exemplo.
Mas é fundamental entendermos quais são os limites tolerados para buscar maior eficiência da
planta e consequentemente obter aumento na produtividade.
No quadro 1, veja o requerimento de água exigido por cultura e como a necessidade hídrica do sorgo
é menor em relação à outras culturas:
Cultura |
H2O |
Sorgo |
271 Kg H2O/1Kg MS |
Milho |
372 Kg H2O/1Kg MS |
Trigo |
505 Kg H2O/1Kg MS |
Algodão |
562 Kg H2O/1Kg MS |
Quadro 1. Requerimento de água
por Kg MS. Fonte: Aldrich et al. 1982
Vantagens no cultivo
A tolerância aos veranicos é o grande diferencial do sorgo, mas estamos falando de tolerância e
não resistência. A média ideal de temperatura para o cultivo de sorgo vai variar entre 16°C
e 38°C, sendo esse o melhor clima para o desenvolvimento da cultura. Temperaturas abaixo de 16°C e acima de
38°C podem ocasionar perdas de produtividade.
Além de o sorgo ser uma cultura totalmente mecanizada, desde o plantio até à colheita, ele ainda
produz uma grande quantidade de palhada, que pode ser utilizada na cobertura dos solos ou no sistema de plantio
direto de culturas subsequentes, a exemplo da soja.
A palhada retém a umidade do solo, diminui os riscos de perdas com a falta de chuvas, aumenta os nutrientes do
solo, reduz os custos com seu preparo e com o tempo vai melhorar expressivamente a produtividade da cultura
subsequente.
A matéria seca da planta de sorgo está relacionada normalmente com a altura da planta, ou seja, o
potencial de produção de matéria seca aumenta de acordo com a altura da planta.
A palhada fornecida pelo cultivo do sorgo, possui alta proporção entre Carbono e Nitrogênio, o
que faz com que aumente a durabilidade da matéria seca sob os solos.
Outra vantagem, é que no sorgo as aflatoxinas raramente ocorrem. O sorgo só terá micotoxinas
– substâncias tóxicas que em grãos e alimentos são causadas por fungos –
denominados mofos ou bolores, quando for armazenado em condições de altas temperaturas e umidade.
Sorgo X Nematoides
Por fim, descrevendo de forma geral são outros benefícios do sorgo granífero:
-
o Fator de Reprodução (FR) de nematoides em sorgo granífero é baixo, sendo uma excelente ferramenta de manejo contra os nematoides;
-
a maioria das cultivares de sorgo granífero são más hospedeiras de Meloidogyne
arenaria, M. Incognita e M. Javanica, e médias hospedeiras de Pratylenchus
brachyurus, portanto, é necessário realizar uma consulta de cada híbrido no
mercado para se estabelecer as medidas preventivas.
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por Fabrício
Ferreira Viana
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa. Possui experiência em
desenvolvimento de produtos e em coordenação de equipes de agronomia. Desde 2004
trabalha em grandes empresas do setor agrícola. Atualmente é agrônomo de
produtona Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, onde desenvolve
atividades voltadas para o desenvolvimento de novos produtos de milho, soja e sorgo.
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Referências
CULTIVO DO SORGO. Disponível em: Sistema de
Produção Embrapa. Acesso em 01/08/2018
PITTA, G.V.E.; VASCONCELLOS, C.A.; ALVES, V.M.C. Fertilidade do solo e nutrição mineral do sorgo
forrageiro. In: CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; RODRIGUES, J.A.S; FERREIRA, J.J. (eds.). Produção e
utilização de silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2001. Cap.9.
p.243-262.
FRIBOURG, H.A., W.E. BRYAN; G.M. LESSMAN; D.M. MANNING. Nutrient uptake by corn and grain sorghum silage as affected
by soil type, planting date, and moisture regime. Agronomy Journal, 68: 260 – 263,