O surgimento do “Sistema de Plantio Direto” (manejo do solo por rotação de culturas e
semeadura sobre palhada) no Brasil teve início em meados da década de 70.
O plantio direto revolucionou o sistema produtivo brasileiro, proporcionando grandes melhorias de
produção e preservação, uma vez que atua diretamente na melhora e
manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, auxiliando na
redução de perdas de nutrientes e perdas de solo por erosão.
Além disso, o plantio direto aumenta o acúmulo de matéria orgânica, permitindo maior
retenção e disponibilidade da água no solo.
Dados da EMPRAPA estimam que 75% das áreas cultivadas com soja e milho no Brasil estejam sob este tipo de
manejo.
O ponto de reflexão sobre o sistema de plantio direto é a questão do não revolvimento
do
solo, baixa fertilidade, pH inadequado à cultura, consideração da dinâmica natural
dos
nutrientes, cultura utilizada, espaçamento inadequado, falta de rotação de culturas e
consecutivas aplicações de adubo na linha de semeadura.
Estes fatores atuam com o aumento de concentrações de elementos químicos na
superfície do
solo (como o Fósforo) enquanto outros elementos podem ser perdidos por lixiviação
(Potássio) e volatilização (Nitrogênio).
Com o crescimento exponencial da safrinha de milho em todas as regiões do Brasil, aumentou a necessidade
de
melhorar o sistema operacional agrícola, visando obter uma maior janela de semeadura.
Com o uso da agricultura de precisão e sua popularização entre os agricultores,
também se
intensificou a aplicação superficial de fertilizantes (nutrientes), principalmente
Nitrogênio
(N), Fósforo (P) e Potássio (K) sendo que os dois últimos, em sua maioria, são
aplicados
a lanço em taxa variável de fertilizante.
Existem diversas controvérsias técnicas e científicas sobre a adubação a
lanço, sua eficiência e possibilidade de utilização. Desta forma, o conhecimento dos
elementos, dos adubos fertilizantes, e dos manejos operacionais adequados, possibilitam um melhor aproveitamento
dos
nutrientes, reduzindo desperdícios, maximizando a absorção e sua utilização
pelas
plantas, resultando em incremento de produtividade e lucratividade.
Formas de distribuição de fertilizantes
O manejo da fertilização é capaz de interferir nas reações que ocorrem entre
os
fertilizantes e o solo e, consequentemente, a disponibilidade dos minerais para as plantas. O modo de
aplicação pode alterar a velocidade e a capacidade dos fertilizantes em reagir no solo.
Dentre as formas de distribuição de fertilizantes, as que se destacam são:
- adubação de semeadura - consiste na aplicação de fertilizantes
e
sementes ao mesmo tempo na linha de semeadura. Tem sido muito utilizada desde a invenção da
semeadora-adubadora;
- adubação a lanço antecipada - consiste em antecipar a
aplicação total ou parcial da quantidade de fertilizante requerida numa cultura, permitindo
que o
processo de semeadura ocorra de forma mais rápida.
Adubação antecipada X no sulco
Os atrasos durante a operação de semeadura podem resultar em redução de
produtividade,
por isso, essa acaba sendo uma das razões da necessidade de aplicar grandes quantidades de adubo no
momento
da implantação da cultura.
As grandes quantidades de adubo aplicadas implicam em maior tempo e número de abastecimentos da semeadora,
o
que vai impactar na sua capacidade operacional.
Uma das alternativas para contornar o problema é antecipar a adubação.
Neste
sistema, a adubação é aplicada antes da semeadura, proporcionando um menor tempo nas
paradas
para o abastecimento da semeadora, reduzindo o número de conjuntos (trator e semeadoura), dos custos
operacionais e do custo total.
A adoção do sistema de antecipação da adubação pode possibilitar o
aumento
na receita líquida quando comparado ao sistema tradicional, independente do período de semeadura.
A adubação no sulco vem sendo substituída pela aplicação a lanço, sem
incorporação, visando maior rendimento operacional nas janelas de semeadura, de modo que se
aproveite
ao máximo os períodos de safra e safrinha.
A adubação a lanço não apresenta inconvenientes entre os nutrientes Nitrogênio
e
Potássio, mas se tratando de Fósforo é uma prática ainda controversa e as
opiniões divergem.
O Fósforo é um nutriente que apresenta efeito residual de longo prazo, dessa forma, o efeito
de práticas de manejo envolvendo este nutriente não pode ser plenamente compreendido pelo
desempenho das lavouras no curto prazo. É preciso evitar conclusões imediatistas, e pensar um
pouco
mais sobre formas eficientes de manejar este nutriente na agricultura moderna.
Mobilidade dos nutrientes P, K e N no solo
Sucintamente vamos relembrar a mobilidade dos nutrientes no solo. Este processo está relacionando com as
cargas de cada elemento e sua relação com os diferentes tipos de solo.
Os cátions são macronutrientes, como o Potássio (K+), o Cálcio
(Ca++), o Magnésio (Mg++) e o Nitrogênio (NH4+).
Já
os ânions são macronutrientes como o Nitrogênio (NO3-), o
Fósforo
(H2PO4-) e o Enxofre (SO4--).
O Potássio, o Cálcio, o Magnésio e parte do Nitrogênio, comportam-se como
cátions
nos solos. Em geral, possuem saldos de cargas negativas beneficiando a adsorção de íons de
cargas positivas, por isso, possuem menos problemas de lixiviação ou de deficiência como
alguns
ânions em situações particulares. Porém, em solos com baixa CTC, poderá
ocorrer
problemas com lixiviação e perda de Potássio. Dessa forma, é interessante seu
parcelamento e uso de forma eficiente.
Outro elemento de extrema importância às plantas é o Nitrogênio
e suas formas amoniacais – cátion (NH4+) e ânion
(NO3-). Mais de 95% deste nutriente é encontrada nos solos, em disponibilidade de
ânion – apresenta grande mobilidade e pode ser lixiviado para longe da superfície ou fora da
zona
de absorção das raízes.
Há uma relação forte entre a matéria orgânica do solo e o N disponível
para
as plantas, sendo que mais de 90% do N do solo está na forma orgânica. Em geral, cerca de 20 a 30
Kg de
Nitrogênio por hectare são liberados para cada 1% de matéria orgânica mineralizada do
solo. Sua redução e transformação é dependente de microrganismos e para
fixação necessita de coloides, podendo ser lixiviado ou perdido na forma gasosa, ou absorvido
pelas
plantas.
O Fósforo também é um elemento fundamental para as plantas, sua presença no solo
é
relativamente alta, mas somente pequenas quantidades estão presentes na solução do solo e
pouco
disponível às plantas. Este processo é afetado pelo pH do solo.
O Fósforo pode ser encontrado de duas formas: orgânica e inorgânica. O Fósforo
inorgânico ocorre na fração argila do solo, ligado ao Cálcio, Ferro e
Alumínio, e
quase na sua totalidade não está disponível às plantas. A pequena parcela
disponível às plantas tende a ser facilmente fixado por argilas do solo.
Impactos da aplicação de Fósforo a lanço
No solo: a concentração de Fósforo (P) na superfície do solo
aumenta a
possibilidade de contato deste nutriente com o calcário, o que torna o P menos solúvel. A
difusão é dificultada porque este processo necessita de umidade, porém, em
superfície, a
difusão sem água é reduzida e afetada, porque a camada superficial do solo é mais
aquecida, perde mais água por evaporação e tende a secar primeiro. Além disso, pode
ocorrer o “efeito dreno” em camadas mais profundas do solo.
Na água: o Fósforo aplicado em superfície pode ser carregado pelo
escorrimento
superficial em solo declivoso, se este não for plantado em nível e com uma boa quantidade de
matéria orgânica, palhada, terraços e drenagem (solos compactados). Desta forma, efeitos da
baixa mobilidade, como a ação dos agentes sobre o movimento do P no solo, afetam diretamente sua
mobilidade, concentração e disponibilidade para as plantas.
Na planta: o Fósforo aplicado em superfície pode fazer com que ocorra
concentração de raízes próximas à superfície. Isso faz com que em anos
de
baixo índice pluviométrico e/ou na safrinha haja redução da produtividade da
cultura, em
virtude do baixo volume de raízes em camadas mais profundas do solo. Essa situação pode ser
minimizada com o aumento de Cálcio em profundidade, uma vez que o Fósforo é pouco
móvel
no solo, mas é móvel na planta, e isso fará com que P seja absorvido das camadas superiores
e
carreado para a zona de crescimento da raiz, permitindo um bom desenvolvimento radicular.
O papel da rotação de culturas
Práticas como a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura aumentam a
eficiência
das adubações a lanço, criando condições para que se potencialize o fluxo de
ressuprimento de Fósforo em profundidade.
A adubação a lanço vem sendo utilizada por empresas do agronegócio no Cerrado
brasileiro
como forma de reduzir a quantidade de adubo na semeadora, aumentando o rendimento e eficiência das
operações.
Produtores do Oeste da Bahia, região referência em construção de perfil do solo, vem
obtendo sucesso com a adubação de manutenção a lanço sem
incorporação, utilizando rotação de culturas e consórcio de milho com
Brachiaria sp.
O uso de Brachiaria sp. pode atuar diretamente sobre o incremento de matéria
orgânica,
aeração e descompactação do solo, por possuir capacidade produtiva de até 10
toneladas de raiz por hectare.
Essas raízes podem alcançar até 3 metros de profundidade, capturando o
Potássio lixiviado, bombeado para a parte aérea, ciclando estes elementos (que já haviam
sido
perdidos) em profundidades, onde as raízes de soja não conseguem mais aproveitar.
Por outro lado, faz com que o Fósforo, elemento móvel nas plantas, que estava em superfície,
possa ser redistribuído através das raízes em profundidades no solo.
Manejos como a rotação de culturas, como o uso de Brachiaria sp., Stylosanthes
sp.,
ou outras gramíneas e leguminosas possibilitam melhor dinâmica e aproveitamento dos nutrientes,
pelos
distintos sistemas radiculares.
Estudos realizados sobre a dinâmica do Fósforo no solo
A dinâmica dos elementos no solo é complexa, e está relacionada a diversos fatores, tipo de
solo,
pH, umidade, matéria orgânica, cultura, cultivar, espaçamento, etc. Assim, existem
discussões sobre a variabilidade levada ao solo com adubação no sulco, em
função
das doses exigidas pelas culturas e os espaçamentos serem diferentes, quando plantadas em um mesmo
talhão.
Mas, trabalhos de longa duração realizados por Anghinoni (2009) demonstram que a
adubação
no sulco tende a se concentrar nas camadas mais profundas do solo, quando comparada a adubação a
lanço (quadro 1).
Quadro 1. Distribuição de P (mg dm-3) no perfil em
função do
tempo de cultivo e do modo de aplicação do fertilizando em SPD no RS (Argissolo 22% argila –
18
anos). Fonte: Adaptado de Anghinoni (2009).
Trabalhos da equipe do Dr. Djalma, da Embrapa Cerrados, demonstram a baixa mobilidade e a
concentração
do nutriente fósforo (imagem 1), em comparação à adubação à
lanço.
Imagem 1. Distribuição de Fósforo no perfil, conforme o modo de
aplicação no Cerrado.
Fonte: Santos (2009) adaptado por Souza et al. (2010).
Pesquisas nos EUA demonstram que 55% do Fósforo absorvido pela planta de milho ocorre depois do
estádio
R1 (gráfico 1). É preciso ter água no sistema – condição nem sempre
favorável.
Gráfico 1. Na planta/potencial produtivo. Fonte: adaptado de Bender et al. (2013).
No gráfico 2 temos a dependência da produção em relação ao
Fósforo
disponível no solo, o que demonstra a importância da correção deste nutriente. A
elevação de fósforo para o nível crítico, é um dos critérios
para
iniciar a adubação a lanço (RESENDE, 2013). Este elemento é fundamental no processo
de
geração de energia pelas plantas, e sua disponibilidade atua diretamente no metabolismo celular e
incremento de massa dos grãos.
Gráfico 2. Dependência da produção em relação ao
fósforo disponível no solo. Fonte: Álvaro Resende (2013).
A adubação com os elementos Nitrogênio, Fósforo e Potássio a lanço, em
superfície, podem ser adotadas com o objetivo de rendimento operacional e redução dos
custos de
produção, sempre observando o tipo de solo, a cultura a ser implantada, relevo,
compactação, matéria orgânica do solo, e também os níveis em que se
encontra cada nutriente (níveis críticos).
Para baixar esse conteúdo em PDF, clique
aqui.
Alguma dúvida sobre adubação a lanço? Deixe o seu comentário aqui embaixo para
mim.
|
por Paulo
Capistrano Dias Tomé Engenheiro Agrônomo, formado pela Escola
Superior
de Agronomia de Paraguaçu Paulista
(ESAPP), com especialização em Gerenciamento da Cultura do Algodão (CEFET).
Possui experiência no manejo das culturas de soja, milho, algodão e girassol.
Atualmente é Agrônomo de Campo na Corteva Agriscience™.
|
Publicado em: 25/08/2015
Atualizado em: 28/08/2019
Referências
HANSEL, FERNANDO, D. Fertilizantes fosfatados aplicados a lanço e em linha na cultura da soja sob
semeadura
direta. Disponível em:
<http://w3.ufsm.br/projetoaquarius/pdfs/dissertacoes/_d_Fernando%20Dubou%20Hansel.pdf>,. Acesso em:
16
de maio de 2019.
NOVAIS, R.F. & SMYTH, T. J. Fósforo em solos e planta em condições tropicais.
Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa, 1999. 399 p.
RAMOS, ANDRÉ. Adubação antecipada e a lanço no milho safrinha. Disponível em
<http://www.pioneersementes.com.br/media-center/artigos/171/adubacao-antecipada-e-a-lanco-no-milho-safrinha>.
Acesso em: 16 de maio de 2019.
RESENDE, ÁLVARO V. Adubação fosfatada e a lanço é prática de manejo
sustentável? 2013. Disponível em <http://brasil.ipni.net/article/BRS-3228>, acesso em 16 de maio de 2019.
SÁ, JOÃO CARLOS DE M. Adubação fosfatada no sistema plantio direto.
Disponível
em:
<
http://brasil.ipni.net/ipniweb/region/brasil.nsf/e0f085ed5f091b1b852579000057902e/de2da84e7376676083257b080045a415/$FILE/Palestra%20Juca.pdf>.
Acesso em: 16 de maio de 2019.
SOUZA, D. M. G. de; LOBATO, E. Adubação fosfatada em solos da região do cerrado. In:
Yamada,
T.;
Abdalla, S.R.S. Fósforo na Agricultura Brasileira. Piracicaba: Potafós, 2004. 726 p.
SOUZA, D. M. G. de; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação.
Brasília,
DF:
Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416p.
VILELA, L.; SOUZA, D. M. G. de; SILVA, J. E. da. Adubação potássica. In: SOUZA, D. M. G.
de;
LOBATO. E. (Ed.). Cerrado: correção do solo e adubação. Planaltina:
Embrapa Cerrados, 2002. p. 169-183.