O Brasil, dispondo de condições climáticas e agrícolas
extremamente favoráveis para a produção sustentável de um dos biocombustíveis
mais avançados do mundo, o etanol de cana, pode ser um parceiro ainda mais
presente no processo de descarbonização do setor de transporte europeu. Nele,
as emissões de CO2 oriundas da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina,
seriam reduzidas em até 90% com a adoção do combustível renovável brasileiro.
Esta foi uma das mensagens que a assessora sênior da Presidência para Assuntos
Internacionais da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Geraldine Kutas
levou a centenas de participantes do “Fuels of the Future 2016”, evento realizado
na segunda quinzena de janeiro (18 e 19/01) em Berlim, Alemanha.
A presença da UNICA no evento foi possível graças a parceria
formada com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(Apex-Brasil) - projeto Brazilian Sugarcane Ethanol -, que busca impulsionar as
exportações do etanol brasileiro. Para a executiva da UNICA, embora não estejam
definidas metas para o uso de fontes renováveis no setor de transporte na União
Europeia no período 2020-2030, os europeus seguem empenhados na discussão de
alternativas que diminuam o uso de energias fósseis no segmento automotivo.
“Nos dois próximos anos esperam-se novas legislações
europeias a respeito da Diretiva Sobre a Promoção das Energias Renováveis (RED,
em inglês) e sobre a descarbonizarão do transporte. É importante que o setor
sucroenergético brasileiro esteja inserido nesta agenda para garantir que o
etanol permaneça dentro das opções europeias para reduzir as emissões de CO2”,
avalia Kutas. De acordo com a executiva, projeções da UE indicam que em 2030,
93% dos veículos ainda serão movidos a combustível líquido no velho continente.
Diante disso, uma opção para tornar o setor de transporte mais limpo seria
elevar a mistura de etanol à gasolina dos atuais 5% (E5) para 20% (E20).
Participando do painel “Mistura de Etanol na UE e global:
Projeções e Desafios” ("Blending of bioethanol in the EU and globally:
prospects and challenges”), a representante da UNICA esteve acompanhada do
secrétario-geral do Sindicato Nacional dos Produtores de Álcool da França
(SNPAA, em francês), Sylvain Demoures, do diretor da agência de notícias
Platt’s, Tim Worledge, e do professor do Instituto de Economia e Energia do
Japão (IEEJ, em inglês), Kaoru Yamaguchi.
Na ocasião, Kutas falou sobre o sucesso do uso de etanol no
Brasil, onde o consumidor pode abastecer seu carro flex optando pela gasolina
(com até 27,5% do biocombustível misturado) ou pelo etanol hidratado (E100).
Atualmente, aproximadamente 68% da frota de veículos de passeio é flex, o que
equivale a mais de 24 milhões de automóveis em circulação. Em doze anos, ao
abastecer seu veículo com biocombustível, os brasileiros deixaram de despejar
na atmosfera 300 milhões de toneladas de CO2, mais que a soma das emissões
anuais registradas em 2013 na Argentina (190 milhões t.), Peru (53,1 milhões
t.), Equador (35,7 milhões t.), Uruguai (7,8 milhões t.) e Paraguai (5,3
milhões t.).
“A possibilidade de se reduzir o nível da mistura
obrigatória e a opção deixada ao consumidor de usar somente gasolina são
situações que têm gerado uma grande flexibilidade em caso de tensões de mercado
ocasionadas, por exemplo, por eventuais problemas na safra canavieira”, explica
Kutas. Outro destaque dado pela executiva em sua palestra foi a produção de
etanol de segunda-geração, citando dois projetos inovadores das companhias
brasileiras Raízen e Granbio, que em 2015 inauguraram duas plantas industriais
para fabricação em larga escala do produto a partir da palha e do bagaço da
cana. Para finalizar, a assessora sênior da UNICA abordou a sinergia deste novo
produto com o etanol de 1ª geração, o que aumentou o volume do biocombustível
no mercado brasileiro sem necessidade de expansão de área plantada e evitando
prejuízos por conta da sazonalidade climática.