Nenhum setor da economia brasileira vai tão bem quanto o
agronegócio. Ilha de prosperidade em um país em recessão, o campo bate recordes
anuais de produção, sustenta o comércio exterior, gera empregos e dribla as
crises nacionais, apresentando taxas sustentáveis de crescimento há três anos.
Na última quinta-feira (3), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) confirmou a força do segmento, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do
Brasil encolheu 3,8% em 2015, o da agropecuária saltou 1,8%.
Da geração de renda a criação de empregos, há uma série de
fatores que dão vantagem ao campo. A boa remuneração do mercado externo e a
demanda crescente por alimentos proveniente de países como a China abriram
margem para um salto de 107% na produção de grãos em quinze anos, rompendo a
barreira dos 200 milhões de toneladas. No mesmo período as exportações do campo
dispararam 406%, chegando a US$ 75 bilhões.
Confira os números do agronegócio no Brasil
O quadro garante uma injeção na veia da balança comercial
nacional, bem como desdobramentos em fatores como a geração de emprego e o
próprio PIB. “O agronegócio tem um papel multiplicador na economia,
influenciando toda a cadeia produtiva, desde o produtor até o consumidor final.
Ela gerou novos empregos e minimizou os impactos negativos de uma economia em
recessão”, pontua o analista técnico e econômico da Organização das
Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. Em 2015, a agropecuária foi
o único setor que registrou saldo positivo de empregos, de acordo com dados do
Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Mais do que demanda, o campo foi favorecido por avanços
tecnológicos que ampliaram a produtividade. Como complemento, o setor viveu um
reforço na injeção de subsídios para custeio da safra, comercialização e
investimentos. Entre as safras 2000/01 e 2015/16 o montante de recursos que
compõem o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) subiu de R$ 8 bilhões para R$ 187,8
bilhões. O aporte abriu margem para a construção de novas agroindústrias e para
reforço na infraestrutura. “O crédito rural realmente foi importante para
impulsionar o campo. No entanto, hoje, se compararmos com outros setores, somos
o que menos utiliza. O agronegócio recebe pouca ajuda do governo, por isso
temos mais produtividade e competitividade”, diz o superintendente técnico da
Confederação Nacional de Agricultura, Bruno Lucchi.
Mesmo crescendo num ano de pessimismo, o agro não ficou
imune ao enfraquecimento da economia. Tirando o desempenho negativo da
agropecuária em 2012 (-3,1%), por seca; e 2009 (-3,7%), por crise econômica;
2015 só foi melhor que 1997 (+0,8%) e 2005 (+1,1%), em uma série histórica
iniciada em 1996. “Isso leva a conclusão de que o agronegócio, apesar de
apresentar desempenho positivo em 2015, não passou ileso das consequências da
crise”, disse a economista Tânia Moreira Alberti, da Federação de Agricultura e
Pecuária do Paraná (Faep), em relatório.
Força econômica
Mesmo com o enfraquecimento da economia nacional, o agronegócio segue aliviando
o tombo brasileiro.