Há meses motivo de preocupação para os
agricultores, sobretudo após os estragos provocados pelo El Niño entre
2015 e o primeiro semestre deste ano, o risco de ocorrência de um La
Niña capaz de provocar problemas nos próximos meses dá sinais de
arrefecimento, de acordo com as principais agências de meteorologia do
mundo.
Nesta semana, duas respeitadas centrais de monitoramento apontaram o
enfraquecimento do fenômeno climático e consideraram menor a
probabilidade de sua formação entre agosto e outubro.
Segundo o escritório de meteorologia do governo australiano, os modelos
mais recentes já apontam chances "reduzidas" de formação do La Niña em
2016. Mesmo assim, a instituição manteve em 50% seu cálculo sobre a
probabilidade de ocorrência do fenômeno nos próximos meses.
Já a agência americana de pesquisas atmosféricas e oceânicas (NOAA,
na sigla em inglês) foi mais assertiva e efetivamente reduziu sua
estimativa para a probabilidade de formação do La Niña. Se em relatório
do dia 11 o órgão informou que as chances de o fenômeno se formar nos
próximos três meses eram de 75%, comunicado divulgado na segunda-feira
reduziu o percentual para entre 55% e 60%. De acordo com a NOAA, os
modelos estatísticos apontam para uma formação mais tardia do La Niña -
que, ao mesmo tempo, poderá apresentar uma intensidade mais fraca que a
prevista inicialmente.
Caracterizado pelo resfriamento anormal das águas superficiais do
Oceano Pacífico, a configuração do La Niña depende de três meses
consecutivos de temperaturas 0,5ºC abaixo da média nas águas
superficiais do Oceano Pacífico. Como as temperaturas estão apenas 0,4ºC
abaixo da média, o fenômeno deverá se formar com um atraso de uma a
duas semanas, explica Patricia Madeira, meteorologista da Climatempo. "A
probabilidade foi reduzida porque julho está um pouco mais quente que o
esperado. Mas o La Niña deve começar em outubro ou começo de novembro",
disse.
Mas, de acordo com Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da
Somar Meteorologia, a chegada mais tardia do La Niña não deverá alterar
os impactos que estavam sendo esperados para o Brasil. O país tende a
registrar atrasos no regime de chuvas durante a primavera e,
consequentemente, também no plantio de grãos das regiões Sudeste e
Centro-Oeste do país, além do "Matopiba" (confluência entre os Estados
do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
"No começo, falava-se que o La Niña poderia persistir até meados de
2017 e, agora, acredita-se que durante o verão o fenômeno já começará a
perder forças. De qualquer forma, a primavera de 2016, que coincide com
o início da safra 2016/17 no Brasil, ainda será sob efeito do La Niña", afirmou ele.
De qualquer forma, começam a diminuir as preocupações em relação
aos efeitos do La Niña no verão, quando chuvas acima da média no Norte e
no Nordeste do país poderiam prejudicar o plantio e o desenvolvimento
das lavouras enquanto o menor volume das precipitações no Sul poderia
prejudicar a produtividade na região. "Com um La Niña mais fraco, as
frentes frias não devem ficar tão presas no Norte. Elas devem passar
pelo Sul, provocando alguma chuva", explica Santos. O agrometeorologista
destaca que apenas na segunda quinzena de agosto será possível
determinar com maior precisão a intensidade do La Niña deste ano.