Com o crescimento significativo em área (hectares), o milho está consolidado como uma das atividades mais importantes na agricultura brasileira.
Entre as épocas de cultivo do milho, somam-se aproximadamente 17 milhões de hectares, dando destaque para o cultivo em segunda safra, que em 2011 se igualou e, passou a ter nos anos seguintes, um número maior de hectares plantados, conforme mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 01. Milho 1° safra x 2° safra em hectares – Histórico 30 anos. Fonte: CONAB adaptado por Sandro Quinebre.
Essa expansão significativa da cultura em segunda safra, se deu graças a vários fatores como: melhoramento genético (híbridos mais adaptados), melhoria nos investimentos e novas tecnologias.
Tudo isso refletindo em crescimento de produtividade e competitividade em relação aos outros cultivos, tornando-se uma das opções mais interessantes financeiramente, pós-cultura de verão (ou primeira safra).
Gráfico 02. Produtividade média (scs/há) do milho 1° safra x 2° safra – Histórico 30 anos. Fonte: CONAB adaptado por Sandro Quinebre.
Assim como qualquer projeto, é necessário planejar as ações que serão executadas durante a safra, tais como:
• Área de cultivo/Perfil físico e químico de solo;
• Híbrido/Tecnologia;
• Época de plantio (Mix de Produtos);
• Adubação;
• Defensivos.
É de extrema importância analisar o sistema de produção como um todo, ou seja, as ações que serão realizadas em um cultivo e seus possíveis resultados no cultivo subsequente.
Dentre as atividades de manejo para a cultura do milho em segunda safra, o planejamento da adubação está entre as principais para o alcance de altos rendimentos em produtividade, sendo assim, é importantíssimo o conhecimento de cada nutriente demandado pela cultura.
Dinâmica de nutrientes
Cada elemento possui papel fundamental na vitalidade da planta, sendo estes absorvidos de diferentes formas.
Desta maneira, conhecendo melhor as formas de absorção, isso irá contribuir no manejo de adubação e consequentemente auxiliar na disponibilidade dos diferentes nutrientes para a cultura. Abaixo citamos algumas formas de absorção:
1. Interceptação radicular: é o encontro da raiz com o elemento disponível no solo (ex.:Cálcio);
2. Fluxo de massa: movimento do íon em uma fase aquosa móvel carregado pela água (nutrientes móveis na solução do solo, ex.: Nitrogênio);
3. Difusão: movimento do íon em uma fase aquosa, passando de uma região de maior concentração para uma de menor concentração próxima da raiz (ex.:P).
Quadro 01. Relação entre o processo de contato e a localização dos fertilizantes (Malavolta,1980).
Expectativa de Produção x Adubação NPK
Toda expectativa de produção está combinada há uma série de fatores, assim as demandas de exportação e extração da cultura, devem ser levadas em consideração juntamente com a genética, a tecnologia, a defensividade, etc.
É de suma importância sempre avaliar o sistema de produção, ou seja, o que podemos ter disponível, oriundo de culturas anteriores, principalmente na sucessão de milho com leguminosas, onde estas, deixam um residual de nitrogênio, devido a fixação biológica.
Quadro 02. Média de extração e exportação de diversos autores, para a cultura do milho. Fonte: Nutrição de Safras.
No entanto, a tabela acima cita as quantidades do elemento e não óxidos, desta maneira devemos transformar conforme os fatores abaixo:
Quadro 03. Transformação dos nutrientes para forma oxida Fonte: Nutrição de Safras.
É muito importante entender e aprimorar o conhecimento sobre as demandas da cultura em relação aos picos de absorção de nutrientes, visto que contribuirá no aumento da eficiência dos manejos de adubação.
Como mostra a figura abaixo, os picos de absorção para o nitrogênio e potássio iniciam cedo se estendendo até após florescimento, assim, dependendo do ambiente, o parcelamento destes macronutrientes, pode ser uma forma assertiva de atender as demandas da cultura.
Imagem 01. Picos de absorção de nutrientes por fase fenológica do milho.
Antes de qualquer tomada de decisão, para qual tipo de adubo utilizar, temos que ter em mãos as informações de como esta acidez do solo deve ser trabalhada, isso porque, se houver índices altos de H e Al, podemos ter problemas na disponibilidade de macronutrientes importantes como N, P e K.
Quando se fala de milho safrinha a necessidade de correção é ainda mais evidente, pois representa condição básica ao desenvolvimento de um sistema radicular vigoroso, sem o qual a cultura tem sérios problemas para suportar os estresses hídricos das semeaduras de outono-inverno.
Nessas condições também ganha relevância o condicionamento das camadas subsuperficiais (abaixo de 20 cm), o que tem sido feito com aplicações de gesso agrícola (Fundação MS).
Nitrogênio (N)
O nitrogênio é o macronutriente com maior demanda pela cultura do milho, onde seu fornecimento, deve ser com base nos valores de extração, ou seja, ficando próximo 23,4 kg de N/t de grãos (média de vários autores).
Assim devido sua dinâmica no solo como N orgânico, sua disponibilidade para plantas vai depender da decomposição da Matéria Orgânica (MO), no entanto, a definição da dose a ser aplicada é tomada em função do histórico da área e do teor de matéria orgânica do solo, sendo liberado 30 kg de N para cada 1% de matéria orgânica.
Baseando-se na sucessão com soja no verão (mais comum), esta deixa em torno de 15 kg de N/t grãos produzidos, no caso de uma produtividade de 3.600 kg de soja/ha, o milho em sucessão terá um residual em torno de 54 kg/ha de N/ha.
Desta maneira em solos corrigidos e com bom percentual de MO, temos um bom fornecimento de N pelo sistema, ficando a diferença para o alcance da expectativa de produtividade, voltado à adubação complementar.
É valido ressaltar que devido as adversidades que ocorrem no período de segunda safra, o aproveitamento do N disponibilizado via adubação mineral, pode ser parcialmente perdida, ou seja, a eficiência de absorção fica em torno de 50 a 75% de aproveitamento.
Fósforo (P)
O fósforo é um macronutriente muito importante para o milho, sendo grande parte exportado do volume extraído pela planta no sistema, possuindo baixa mobilidade no solo, porém com grande mobilidade na planta, sendo o principal elemento na formação do ATP (energia).
Levando em consideração o sistema de sucessão com soja, normalmente o fornecimento para o sistema é realizado na cultura de verão, deve-se levar em consideração as exigências de exportação das duas culturas, logo teremos em torno de 14 kg de P2O5 para cultura da soja e 7,8 kg de P2O5 para cultura do milho.
Pensando em uma produtividade de 70 sacas de soja e 140 sacas de milho, deverá ser fornecido em torno de 126 kg de P2O5, visando atender as duas expectativas.
É válido ressaltar que o P é absorvido pela planta através de difusão, ou seja, em situações onde os níveis deste elemento estiverem muito baixo recomenda-se a disponibilidade dele via sulco de plantio, facilitando a absorção pelas raízes.
Porém em condições onde os níveis de P estiverem equilibrados, podemos trabalhar com o fornecimento do nutriente a lanço, desta forma, ganhando rendimento operacional no momento do plantio.
A aplicação de P via fertilizante foliar também é uma boa alternativa visando complementar o fornecimento deste macronutriente, este manejo poderá ser bem útil em algumas condições como:
• Em condições de deficiência;
• Pós veranico;
• Pós glifosato;
• Lavoura mal desenvolvida;
• Em R1, R3 para aumentar peso de grão.
Potássio (K)
Após o nitrogênio, o potássio é o macronutriente mais extraído pelo milho, sua recomendação é baseada pela exportação, ficando em torno de 5.1 kg de K2O/t produzida.
Como não faz parte de compostos orgânicos e possui alta mobilidade, os solos mal corrigidos e com baixa CTC apresentam maiores perdas por lixiviação, desta maneira deve-se levar em consideração esses fatores para melhor aproveitamento deste elemento.
Alguns estudos mostram que ocorrem respostas dos níveis de K no solo, em relação a adubação nitrogenada, ou seja, quanto mais próxima a relação 1:1, melhor será a resposta da cultura em: sanidade, tolerância a stress, resistência de colmo e produtividade.
Conforme já mencionado, a demanda por K já existe na fase vegetativa do milho, ou seja, deverá ser fornecido parte deste elemento logo de início, não podendo exceder 60 kg de K2O/ha no sulco de plantio, evitando problemas de salinização nas plântulas.
Resumindo
Como todo cultivo agrícola visa lucro, o plantio de milho deve ser planejado e alinhado com base nas expectativas;
É importante conhecer a dinâmica dos nutrientes, para melhor assertividade do fornecimento deles;
Sempre levar em consideração o cultivo anterior e o potencial de extração (N) e exportação.
Referências
ROSCOE, Renato; MIRANDA, Renata de Azambuja Silva. Manejo da Adubação do Milho Safrinha
Acesso em: 30 dez. 2019.
FRANCISCO, Eros. Manejo da adubação no sistema soja-milho. Acesso em: 30 dez. 2019.
MOSAIC, Equipe. Tabela de Extração e Exportação dos nutrientes na Cultura do MILHO. 2019. Acesso em: 30 dez. 2019.
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por Sandro Rossano Quinebre
Engenheiro Agrônomo, formado pelas Faculdades Integradas de Rondonópolis/UNIC. Possui experiência no manejo das culturas de soja, milho e algodão. Atualmente é Agrônomo de Campo na Corteva Agriscience™.
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Publicado em: 09/02/2016
Atualizado em: 17/01/2020