As exportações do Brasil aos países árabes somaram US$ 865,5
milhões em janeiro, um aumento de 17% em relação ao mesmo mês do ano passado,
de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
O avanço foi induzido principalmente pelo crescimento das
exportações de açúcar e milho. No primeiro caso, os embarques renderam US$ 298
milhões, um acréscimo de 259% sobre fevereiro de 2015. No último, o total
comercializado foi de US$ 126 milhões, um aumento de 704% na mesma comparação.
Estes foram, respectivamente, o primeiro e o terceiro itens em importância na
pauta em fevereiro. Em segundo lugar ficou o frango, com exportações de US$ 174
milhões, um recuo de 7,7% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O crescimento dos números do setor sucroalcooleiro e do milho foi destaque
também nas exportações totais do agronegócio brasileiro, com avanços de 124%,
para US$ 952 milhões, e de 329%, para US$ 893,6 milhões, respectivamente.
De acordo com o zootecnista e consultor da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro de
Lima Filho, dede o início do segundo semestre do ano passado há uma
movimentação maior das exportações de milho, incentivada pela valorização do
dólar frente ao real e pela oferta recorde da segunda safra de 2015, a chamada
“safrinha”. “E esta tendência não se interrompeu com a passagem do ano”,
destacou.
Houve também menor oferta por parte dos Estados Unidos, então o Brasil
“abocanhou” fatias de mercado tradicionalmente abastecidas pelos
norte-americanos, “não só no mundo árabe, mas também na Ásia”.
Lima ressaltou, porém, que a partir do mês atual é esperada uma redução no
ritmo dos embarques de milho porque começa a ganhar peso a exportação de soja,
que utiliza os mesmo canais. Ele explicou que o embarque da soja deveria ter
começado em fevereiro, mas, por problemas climáticos, o plantio ocorreu
tardiamente e, consequentemente, a colheita.
Para Lima, a valorização do real frente ao dólar ocorrida nas últimas semanas
poderá também tirar competitividade do milho brasileiro no mercado
internacional.
Na mesma linha, o diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, disse que a
combinação de preços competitivos e oferta abundante fez com que os árabes
comprassem mais para formar estoques. Em sua avaliação, mesmo que os embarques
de milho diminuam, o início das exportações de soja deverá fazer com que o
comércio do Brasil com o mundo árabe continue a crescer.
Além disso, Alaby observou que nos próximos meses haverá maior impacto da
retomada das exportações de carne bovina à Arábia Saudita e outros países do
Golfo, mercados que haviam embargado o produto brasileiro até novembro do ano
passado. Em fevereiro, as vendas de carne bovina congelada à região aumentaram 3,5%,
e as de carne fresca, 14%. “Na área de alimentos, eu não tenho dúvidas que as
exportações aos árabes vão crescer este ano”, declarou.
Doce demais?
Sobre o açúcar, o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, destacou
que os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC
não correspondem ao movimento de navios, ou “lineup”, observado no mês. Para
ele, o forte avanço nos números pode ser resultado de um “ajuste” e conter
operações de outros meses. Outro consultor do ramo ouvido pela ANBA deu opinião
semelhante.
Segundo a assessoria de imprensa do MDIC, embora não seja
comum, é possível que eventualmente ocorra desencontro de dados. O ministério
explicou que no desembaraço aduaneiro pode haver um prazo de dez dias desde a declaração
de exportação, que entra na contabilidade da Secex, até o embarque propriamente
dito e, em fevereiro, por ser o mês mais curto do ano, é possível que tenham
sido registradas operações que serão efetivamente concluídas em março.
Nastari ressaltou, porém, que o mundo árabe é tradicionalmente grande comprador
de açúcar do Brasil. Como bloco, é o maior mercado, e no ano passado respondeu
por 35,4% de todo o açúcar que o País exportou.
“Os países árabes sempre foram muito importantes, pois nesta região estão
localizadas grandes refinarias, as maiores do mundo”, disse o executivo. “O
Brasil exporta principalmente açúcar bruto, e países como os Emirados Árabes
Unidos, Arábia Saudita, Argélia e Egito têm um grande parque de refino. Depois,
o açúcar [refinado] é distribuído localmente e regionalmente”, acrescentou.
Além dos alimentos, Alaby acredita que há espaço este ano para ampliar as
vendas de produtos como materiais de construção, calçados, cosméticos e
equipamentos médicos, em função do dólar ainda valorizado e da baixa demanda no
mercado interno do Brasil. “Cabe às empresas ter agressividade, participar de
feiras, missões comerciais e de outras ações de promoção comercial nos países
árabes”, destacou.
Entre os países, os principais mercados em fevereiro foram a Arábia Saudita,
que importou o equivalente a US$ 189 milhões do Brasil, um aumento de 23,9%
sobre o mesmo mês de 2015; Egito, com US$ 172,5 milhões, um crescimento de
75,6% na mesma comparação; Emirados, com US$ 158 milhões, um recuo de 21,4%;
Argélia, com US$ 101 milhões, ou 114,6% a mais; e Iraque, com US$ 38 milhões,
um acréscimo de 363,4%.
No acumulado do primeiro bimestre, as exportações brasileiras renderam US$ 1,7
bilhão, uma queda de 3,6% em relação ao mesmo período do ano passado, em função
do desempenho negativo registrado em janeiro.
Importações
Na outra mão, as importações brasileiras de produtos árabes somaram US$ 505,5
milhões em fevereiro, ou 29% a menos do que no mesmo mês de 2015. No primeiro
bimestre, as compras totalizaram US$ 708,3 milhões, um recuo de 30,6% sobre os
dois primeiros meses do ano passado.
Alaby avalia que o fraco desempenho das importações é resultado do baixo preço
do petróleo e do quadro recessivo da economia brasileira. As compras de
petróleo e derivados caíram 36,3% no primeiro bimestre. As de fertilizantes, no
entanto, cresceram 27,6%.